Um estudo recente realizado por investigadores Universidade de York, em Toronto, Canadá, sugere que adiar a segunda dose da vacinação contra a Covid-19 pode melhorar a eficácia dos seus programas.
No início do ano, autoridades de saúde em todo o mundo ponderaram alargar o prazo do reforço da imunização, tanto devido às dificuldades de fornecimento das farmacêuticas como ao aparecimento de uma nova variante do vírus. Depois de o Reino Unido ter anunciado a decisão de adiar a segunda toma da vacina contra a Covid-19, Luís Graça, imunologista do Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa, explicou, na altura, à VISÃO que estava a ponderar-se “usar as doses já disponíveis para tentar aumentar o número de pessoas protegidas”, mas que se tratava de “atrasar, não suspender. Todos os estudos foram feitos com duas doses. Não faz sentido pensar num cenário sem a segunda dose”, acrescentou.
A decisão do Reino Unido foi explicada pelo elevado nível de proteção proporcionado pela primeira dose, que sugeria que vacinar inicialmente um maior número de pessoas com uma única dose evitaria mais mortes e hospitalizações do que vacinar um número menor com duas doses e que “os atrasos na administração de uma segunda dose de vacina até 12 semanas não deveriam afetar a proteção, pelo contrário”.
No início de março, António Lacerda Sales, secretário de Estado Adjunto e da Saúde, anunciou que seria alargad de 21 para 28 dias o intervalo entre a toma da primeira e da segunda dose da vacina da Pfizer. “Trata-se de uma decisão com amplo consenso técnico da DGS e do Infarmed, e que vai permitir a vacinação de mais 100 mil pessoas até ao final de março”, referiu, na altura, o governante em conferência de imprensa.
Neste estudo recente, publicado na revista PLOS Biology, os investigadores quiseram perceber, a partir de ensaios clínicos, se a melhor estratégia para combater o SARS-CoV-2 seria vacinar o máximo de pessoas possível com a primeira dose de vacinas e adiar a segunda dose ou se, por outro lado, devia priorizar-se a conclusão da inoculação com as duas doses das vacinas, tanto em conta as vacinas da Pfizer e da Moderna.
Para isso, a equipa construiu um modelo matemático que fez uma simulação da transmissão da Covid-19 e de vários planos de vacinação com segundas doses adiadas, com vários cenários possíveis, que incluíram, por exemplo, diferentes níveis de imunidade preexistente na população. A conclusão dos investigadores foi que adiar a segunda dose das vacinas da Pfizer-BioNTech e Moderna por 9 a 15 semanas após a primeira dose evitou mais hospitalizações, infeções e mortes por Covid-19 em relação aos calendários dos atuais dos planos de vacinação para estas vacinas.
Apesar destas conclusões, os autores assumem que a investigação tem várias limitações, uma vez que a equipa assumiu que os níveis de proteção da primeira dose eram estáveis se as segundas doses fossem adiadas e que o nível de proteção após o adiamento das segundas doses era idêntico à proteção geral após duas doses, vacinando de acordo com os planos atuais.
Os investigadores afirmam, ainda, que serão necessários mais estudos para se determinar o tempo ideal entre as doses para cada tipo de vacina. “Ainda não conseguimos realizar um quadro completo relativo à eficácia das vacinas à medida que novas e mais contagiosas variantes se espalham. A sua eficácia contra essas variantes é um fator adicional que precisa de ser considerado”, afirmam os investigadores.