Dias houve em que a escola era um local muito feliz. Era muito mais do que o espaço em que as aulas decorriam. Era a segunda casa para muitos e a primeira para tantos outros que, neste local tão estimado, encontravam o afeto e a sensação de pertença que não tinham no seio da sua família. Estávamos na escola porque queríamos, porque ali éramos felizes.
As aulas ocupavam apenas parte do dia e estavam disponíveis outras atividades, a que acorríamos e frequentávamos com orgulho e alegria: o grupo de teatro, o clube do ambiente, a equipa de basquetebol, entre tantas e tantas outras… Não havia smartphones nem sequer a internet tinha ainda chegado às casas dos portugueses. Por isso, se queríamos encontrar os nossos amigos e falar com eles, tínhamos mesmo de contactá-los através de um número fixo ou encontrá-los no ponto de encontro habitual: a escola! Aí decorriam as mais variadas tertúlias, os sorrisos surgiam naturalmente nos lábios, os primeiros amores nasciam, as gargalhadas despontavam, e o mundo era tão grande mas ao mesmo tempo parecia caber ali. Os professores estavam motivados e, após as suas aulas, ou mesmo no intervalo das mesmas, dispunham do seu tempo para conversar com os seus alunos e para dinamizar todas as atividades, havendo um convívio muito saudável entre toda a comunidade escolar. As aulas eram agradáveis e enriquecedoras, com uma troca de ideias que a todos engrandecia e com promoção contínua da criatividade. Havia tempo para conviver e para respirar!
O que mudou? A desvalorização dos professores e da escola. Os professores foram transformados em máquinas de cumprir programas e de preenchimento de papéis e outras burocracias. Os programas tornaram-se gigantes e pouco motivadores. O tempo começou a escassear. Não há tempo para o convívio, porque os exames se aproximam e tem de se garantir um excelente resultado para se conseguir entrar nos cursos que restam com garantia de empregabilidade em Portugal. Os sorrisos diminuíram, as gargalhadas tornaram-se mais escassas. Os olhos dos professores e dos alunos deixaram de brilhar…
De há uns anos para cá, temos assistido sentados à morte lenta do ensino público e à desvalorização da profissão docente, transformando a escola num sítio mais sombrio e pouco aprazível. Temos de repensar rapidamente em tudo isto. Se os nossos professores e os nossos alunos não estiverem motivados, corremos o risco de que a escola pública morra, uma vez que ninguém vai querer ser professor onde não se sente valorizado. Aliás, já serão muito poucos os que desejarão seguir esta profissão, na verdade tão bela e extremamente necessária. Tentamos depositar cada vez mais informação nos alunos, mas neles não criamos consciência para tantas questões críticas. E tudo isto tem de começar em casa, com a introdução de valores como o respeito pelos professores, pelos funcionários e pelos colegas, entre outros membros da comunidade educativa.
Estamos tão preocupados em vencer financeiramente, que nem nos damos conta de que se deixarmos morrer a escola pública, com ela morrerá toda uma sociedade que tanto necessita de pensar e de ser mais humana. Que valores queremos, afinal, para os nossos filhos?
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