Há palavras que constroem a paz. Não só no sentido oposto ao da guerra, mas também no da paz interior. Na verdade, a palavra certa, no momento perfeito, pode acalmar um coração mais fragilizado ou um estado de espírito mais ansioso.
Se estivermos atentos aos que nos rodeiam, se pararmos para “vermos” as pessoas em vez de somente as olharmos, podemos mudar trajetórias, ser a calmaria em tempos de tormenta ou mesmo salvar vidas. Quantos perto de nós sorriem diariamente quando por dentro estão em lágrimas? Isto porque mostrar a nossa fragilidade é, frequentemente, associada a um estado de fraqueza. Daí que temamos mostrar verdadeiramente como estamos num dado momento, com medo do julgamento dos outros. Mas a verdade é que, com uma conversa, uma palavra amiga, um gesto de atenção, podemos ser a luz no dia de alguém. Isto porque as palavras podem ter este poder enorme, quase mágico, de transformar um rosto fechado num sorriso aberto. Por isso, devemos usá-las de forma sábia, ponderada, atenta e cuidadosa. Esta é uma das muitas razões pelas quais devemos conhecer bem a língua através da qual comunicamos com os outros, para que aquilo que pensamos corresponda, de facto, à mensagem que transmitimos. As palavras utilizadas de forma errada podem mesmo desencadear um conflito, nomeadamente na atualidade, em que comunicamos diariamente por meio de mensagens e emails.
Contudo, o contrário pode perfeitamente acontecer, e as palavras erradas dirigidas a pessoas mais frágeis transformam-se em verdadeiras armas de fogo, capazes de as atingir de forma profunda. Efetivamente, quando, mesmo sem intenção, recorremos às palavras erradas, corremos o risco de magoar quem não merece, de atingir e magoar o interior de alguém, retirando a luz e trazendo a escuridão. Sejamos sensíveis na utilização das palavras, sejamos responsáveis com aquilo que transmitimos aos outros, porque, assim como as palavras salvam, podem também destruir.
Hoje em dia, com as redes sociais, a cobardia é imensa e os ataques gratuitos sucedem-se. A facilidade com que usa a palavra para criticar o próximo e tecer comentários pouco ou nada construtivos, e que só revelam almas muito amarguradas ou a necessidade de magoar, é cada vez mais evidente e preocupante. Vejo esta realidade como um sinal assustador de tempos em que o “ter” conta mais do que o “ser”. E esta utilização, por vezes cruel, da língua reflete a falta de investimento de uma sociedade no lado humano da educação, com pouco convívio diário com a cultura, criando intolerância perante o que é diferente e a prática do culto tão prejudicial do materialismo, que, por sua vez, conduz a uma frustração perante o não conseguir “ter”.
Vivemos num mundo em que as palavras certas são cada vez mais urgentes e podem representar a manutenção da paz, em todos os seus sentidos mais amplos. Por isso, apelo a uma reflexão, para não permitamos que as palavras veiculem sentimentos indignos do que somos como pessoas. Sejamos sensíveis e salvemos os outros com as palavras certas.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.