Quase 15 dias após a passagem recorde de Carla Alves pelo Governo como secretária de Estado da Agricultura, a governante que lhe abriu as portas aos salões do poder executivo tem hoje oportunidade de explicar ao País quais os critérios que guiam a constituição da sua equipa. A seguir a um silêncio confrangedor, que se estendeu por uma longa quinta-feira, de 5 de janeiro, em que os socialistas estiveram debaixo de fogo e submetidos à prova com uma moção de censura, Maria do Céu Antunes assegurou, atabalhoadamente, que desconhecia que Carla Alves tinha a Justiça à perna, com contas arrestadas em conjunto com o marido, o ex-autarca de Vinhais, Américo Pereira. Mas terá sido mesmo assim? É isso que a ministra terá de revelar, esta quarta-feira de manhã, no Parlamento, por onde já passou há dias Fernando Medina, para explicar os contornos da nomeação de Alexandra Reis, outra ex-secretária de Estado cujo caso fez cair um ministro. (Aliás, meia hora depois de Maria do Céu Antunes começar a falar, será a vez de numa outra sala a CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, ser ouvida quanto ao pagamento da indemnização de 500 mil euros à ex-secretária de Estado do Tesouro).
Crendo que para a construção da sua manchete saída a 5 de janeiro, que dava conta do historial sinuoso de Carla Alves, o Correio da Manhã não terá contactado o Ministério da Agricultura em cima da cerimónia da tomada de posse em Belém, na tarde de 4 de janeiro, mas provavelmente umas quantas horas antes (porque as regras jornalísticas mandam que haja tempo para um contraditório); (pelo menos) o gabinete de Maria do Céu Antunes soube que teria em mãos uma situação muito delicada – e, talvez, tenha sido com base nessas contas que o Público adiantou que a governante sabia o que estava em causa.