Estamos em 1924. A funerária Nevermore é a fachada que esconde o quartel-general da delegação lisboeta da Ordem dos Corvos, uma sociedade secreta que procura o segredo da vida para além da morte. A liderá-la está Edgar Allan Poe, uma das personagens históricas que A Morte do Corvo, um projeto de teatro imersivo, “ressuscita” para participar na narrativa ficcional em que também entram, entre outros, Fernando Pessoal, Ofélia e Mário de Sá-Carneiro.
Dominado pela inveja indomável que nutre em relação a Pessoa, Poe arquiteta um plano diabólico para levar o poeta à loucura e causar a sua morte. Senhoras e senhores, “bem-vindos ao funeral anunciado de um dos maiores poetas de sempre”. O espetáculo vai começar.
Nas quase duas horas que dura a peça, o público é convidado a seguir livremente nove personagens e a perder-se por mais de 25 salas, labirinticamente distribuídas ao longo dos dois mil metros quadrados do antigo Hospital Militar da Estrela. Em cada sessão, de aproximadamente 100 minutos, a história repete-se duas vezes, permitindo aos espectadores optar por assistir a outras cenas e seguir personagens diferentes.
Os adereços e mobiliário de época, os cheiros e a banda sonora, especificamente desenhada para cada espaço, fazem-nos acreditar que saltamos para um tabuleiro do jogo Cluedo na vida real, com direito a seguir o suspeito que quisermos, explorando lugares que vão de um cabaré de burlesco a uma floresta iniciática, passando por um laboratório, quartos, salas de estar, escritórios e salas escondidas, onde só alguns sortudos são convidados a entrar.
A coreografia de Bruno Rodrigues e a encenação de Ana Padrão são interpretadas magistralmente pelo elenco. Ainda assim, como não há falas, o diretor criativo Nuno Moreira aconselha os espectadores a conhecer as personagens (ver caixa) e a ler a sinopse antes do dia do espetáculo. E sublinha: “Se vão acompanhados de amigos, separem-se. Para acreditar verdadeiramente que aterrámos nos anos 20, temos de nos deixar levar pelas emoções, sem estarmos demasiado obcecados a tentar perceber logo tudo.”
- AS PERSONAGENS
- Edgar A. Poe: Líder da Ordem dos Corvos. Por inveja quer provocar a morte de Pessoa
- Fernando Pessoa: Casado com Ofélia, convida Mário de Sá-Carneiro a entrar na Ordem dos Corvos
- Mário de Sá-Carneiro: Poeta e grande amigo de Pessoa
- Hélène: Amante de Mário, ajuda Poe, em troca de contactos para entrar nas Ziegfeld Follies
- Ofélia: Desconfia de que Pessoa e Mário possam ser mais do que amigos
- Vasco: Barman do clube de cabaré e que fará de tudo para ser promovido
- Celeste: Ervanária e cunhada de Poe, a quem pede que drogue Mário
- Lenore: Mulher morta de Poe, que este quer trazer de volta
- Agente Funerário: Trabalha para Poe, mas tenciona roubar-lhe o negócio
A Morte do Corvo > Hospital Militar da Estrela > R. Santo António à Estrela, 29 A, Lisboa > até 30 jul, qua-sáb 21h, dom 17h > €38-€60 (VIP)