Vicente Alves do Ó tem-se dedicado à importante tarefa de inscrever no cinema português retratos de figuras importantes da nossa cultura. Fê-lo com os poetas Florbela Espanca e Al Berto e, agora, fá-lo com Amadeo de Souza-Cardoso, provavelmente o mais significativo pintor português da primeira metade do século XX.
Alves do Ó não tem as pretensões nem as responsabilidades de um historiador ou biógrafo. Ele próprio é um criador; por isso, constrói retratos impressivos das personagens, evidenciando um olhar próprio. Não se espere nem se exija destas histórias um percurso de vida tintim por tintim, mas uma ideia geral das personagens que pode permitir uma aproximação mais subjetiva.
Isso, às vezes, corre bem; outras vezes, corre pior, porque Alves do Ó é um realizador, por natureza, intenso e excessivo. Correu pior em Florbela e melhor em Al Berto. Em Amadeo, o retrato impressivo até está minimamente bem conseguido na primeira metade do filme, entre o futurismo, a movida, o meio artístico modernista e a melancolia da personagem. Contudo, na parte final, deita tudo a perder, até a própria pertinência narrativa.
Registe-se o facto de Amadeo contar com as últimas participações no cinema de Eunice Muñoz e Rogério Samora. Atores que deixam saudades.
Amadeo > De Vicente Alves do Ó, com Rafael Morais, Ana Lopes, Raquel Rocha Vieira, Rogério Samora > 98 min.
