A ideia do filme partiu de uma notícia que dava conta de que o filho de Duarte Pio de Bragança, o pretendente ao trono de uma monarquia que não existe, tencionava alistar-se nos bombeiros para ajudar o País a combater o flagelo dos incêndios florestais. Isto nas mãos de João Pedro Rodrigues transformou-se numa inusitada comédia – género que o realizador já havia pisado (em Morrer como um Homem, por exemplo) mas que nunca tinha assumido inteiramente em todo o seu esplendor.
Esclareça-se, ponto importante, que João Pedro Rodrigues fez mesmo uma comédia, daquelas que provocam gargalhadas audíveis entre o público. Não é uma revisão ou subversão do género, mas antes o desafio de enquadrar o seu universo e a sua linguagem (continua tudo lá, incluindo o erotismo gay muito explícito) dentro de um formato com regras e propósitos preestabelecidos. Prova superada.
Sobre um fundo ecológico, um pouco naïf, constrói-se uma história de amor entre mundos paralelos e quase opostos. O ambiente do príncipe é anacrónico e, por isso, risível, de uma realeza deslocada da realidade. O ambiente do quartel de bombeiros é fetichista, fantasioso, e por isso também risível.
Pelo meio, insólitos momentos, como a própria banda sonora, em que se ouve a canção Uma Árvore, um Amigo (de Carlos Paião cantada por Joel Branco) ou o tema tradicional muito racista Mané Chiné, na versão de Amália. Mas também as coreografias à Minelli ou Demy, o jogo de mímica para adivinhar pinturas clássicas através de molduras humanas ou as próprias participações de Joel Branco e do ex-futebolista Oceano Cruz. Neste campo, destacam-se, ainda, as revelações dos jovens atores Mauro Costa e André Cabral.
Fogo-Fátuo não é aquele típico filme para ver em família, mas é certamente o mais acessível dos filmes de João Pedro Rodrigues – e que, como qualquer boa comédia, no intervalo das gargalhadas nos põe a pensar em coisas sérias.
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Fogo-Fátuo > De João Pedro Rodrigues, com Mauro Costa, André Cabral, Margarida Vila-Nova, Miguel Loureiro, Joel Branco, Oceano Cruz > 67 min
