Quando o rosto da menina afegã, com hipnóticos olhos verdes, apareceu na capa da National Geographic (NG), em 1985, pouco se sabia sobre ela. Ainda assim, a imagem de Sharbat Gula, captada por Steve McCurry num campo de refugiados no Paquistão – o fotógrafo foi pioneiro na cobertura da invasão soviética no Afeganistão e das consequências desta guerra, conquistando a medalha de ouro Robert Capa –, tornou-se a mais reconhecível da história da revista norte-americana. Durante anos, o fotógrafo norte-americano tentou localizá-la. Conseguiu-o em 2002, no seu país de origem, Afeganistão, e Gula voltou a ser capa da NG, desta vez com 30 anos, carregando no rosto o peso das dificuldades por que passou. Recordava-se perfeitamente do primeiro encontro com McCurry, já que foi a única vez que alguém a fotografou, mas não fazia ideia de que se tinha tornado símbolo dos refugiados afegãos.
Muitos foram os retratos de anónimos, vítimas dos conflitos armados pelo mundo, feitos pelo fotógrafo. “Procuro o momento desprotegido, com a alma à espreita e a experiência gravada no rosto”, explicou um dia. Entretanto, após a conquista de inúmeros prémios – muitos deles enquanto estava ao serviço da prestigiada agência Magnum –, a testemunhar acontecimentos históricos, afastou-se do fotojornalismo. Hoje, com 72 anos, prefere referir-se a si próprio como “um contador de histórias visuais”.
Nesta retrospetiva, com mais de 100 imagens de grande formato, estão não só incluídos cenários de guerra e tragédias mas também registos de tradições que se perderam no tempo e na cultura contemporânea, sempre com o elemento humano presente. Esta grande viagem visual vai da China à Índia (um dos seus destinos de eleição), do Sudeste Asiático a África, de Cuba aos EUA, do Brasil a Itália… Aliás, a família deu-lhe a alcunha de “perpetual motion” (movimento perpétuo).
A exposição contempla vídeos em que o autor fala um pouco sobre o seu percurso e o contexto das fotografias – uma informação enriquecedora, já que as imagens estão apenas identificadas com data e local onde foram tiradas, dando liberdade às interpretações de quem as observa.
ICONS > Cordoaria Nacional > Av. da Índia, Lisboa > T. 21 363 7635 > até 22 jan, ter-dom 10h-20h > €12