Se há coisa que este filme de Kiyoshi Kurosawa nos vem lembrar é que não foram apenas os alemães a cometer atrocidades contra os direitos humanos durante a II Guerra Mundial. Se os nazis torturaram, gasearam e submeteram milhares de prisioneiros civis a experiências, os japoneses fizeram o mesmo. Usaram seres humanos para fazer experiências científicas – amputações na sequência de testes de hipotermia, vivissecções (dissecar seres que estão vivos) sem anestesia, por exemplo – e usaram armas químicas. Filipinos, malaios, cambojanos, vietnamitas, birmaneses, indonésios e, principalmente, chineses foram vítimas, assim como militares aliados capturados.
Os japoneses também tinham a sua Gestapo, a Kempeitai. Com o mundo à beira de um conflito à escala global, a II Grande Guerra, um rico comerciante de Kobe, uma cidade portuária no centro do Japão, decide viajar até à Manchúria. Japão e China já travavam o seu próprio conflito, a chamada Segunda Guerra Sino-Japonesa, em que os nipónicos tinham conquistado a região que hoje corresponde ao Nordeste da China. De lá, este comerciante, que é também amante de cinema e da arte de filmar, traz em segredo filmes que atestam a veracidade das torturas, mortes e experimentos com armas químicas feitos pelos japoneses. A ideia é denunciar estas atrocidades ao mundo. A mulher, amiga de infância de um homem que entretanto se tornou um oficial da Kempeitai, começa por recear pelo marido, mas também acaba por enveredar pela aventura de fazer chegar as provas a bom porto.
Leão de Prata para melhor realizador em Veneza, a história de Mulher de Um Espião, escrita pelo próprio Kurosawa, por Ryusuke Hamaguchi (realizador de Drive My Car) e Tadashi Nohara, aborda também as vicissitudes de uma relação conjugal e dos formas encontradas para superar a falta de confiança e, consequentemente, de conhecimento do outro.
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Leão de Prata: Kurosawa conquistou o Prémio de Melhor Realizador no Festival de Veneza, onde o filme teve a sua antestreia.
Mulher de um Espião > De Kiyoshi Kurosawa, com Yû Aoi, Hyunri, Issei Takahashi, Ryôta Bandô > 115 min