Descemos as escadas do museu, ainda mal entrámos e já ouvimos os sons da cidade. Mesmo atrás fica Prisma, a videoinstalação em que Vhils percorre nove metrópoles, de Los Angeles a Xangai. Daqui em diante estamos em Portugal, em Lisboa, na grande área metropolitana que vai de Cascais a Setúbal. Não viajamos apenas no espaço, também viajamos no tempo. Explicam os curadores André Brito Guterres e Carla Cardoso que o objetivo de Interferências: Culturas Urbanas Emergentes – a nova exposição do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT) – é contar a história da cidade durante os anos da democracia. Com particular destaque para a história não contada, a dos vazios, a das ocultações e omissões, a das heranças por assumir, a dos protagonistas por revelar. A das grandes ausências, resume Carla.
Prosseguimos. Fala-se crioulo, há hip-hop a tocar, vários núcleos que não se distinguem e que, pelo contrário, se cruzam; seguimos uma cronologia que, por vezes, também é interrompida. São muitas as expressões da cultura urbana reunidas em Interferências, encruzilhada de uma metrópole com muitas comunidades. Dos painéis do coletivo Unidigrazz aos fanzines, aos grafítis, à fotografia, ao desenho… Para a ocasião, foram encomendadas dezenas de obras, agora aqui expostas lado a lado com peças provenientes de coleções já estabelecidas. Daí pretende-se retirar, continuam os curadores, muitos diálogos e muitas narrativas.
De metáfora em metáfora, também se viaja no tempo, já se disse. Da antiga galeria de Belém, desaparecida em 1981 depois de um incêndio, o que de certa maneira encerrou um ciclo, à homenagem (por Fidel Évora) a Alcindo Monteiro, assassinado por um grupo de skinheads em 1995, no Bairro Alto. As fotomontagens de Isabel Brison são esclarecedoras: olhamos para elas e temos a sensação de que conhecemos aquele sítio, de que já passámos por ali. Não passámos, são lugares imaginários, mas podiam muito bem existir, o que (diga-se) não os torna menos verdadeiros… As cidades também são feitas de utopias.
Programação Iminente
De maio a setembro, está previsto um programa de conversas (Museus e Comunidade 7 mai; O Mercado da Arte 7 mai; Pós-Colonial 11 jun; Juventude Sitiada 11 jun; Desenho habitado 3 set; Rua e Galeria 3 set;), oficinas ( Padrão 7-8 mai; Histórias Invisíveis por Petra Preta e Puçanga 19-20 mai, 30 jun, 1 set; Mapeamento da Cidade 28-29 mai; Memória Representada 2-3 jul; Direito ao Imaginário 16-18 ago; Por Xullsji 2-4 set), performances (Real. G.U.N.S 7 mai; Lukanu 11 jun; Herlander 3 set) e filmes (Era uma vez um Arrastão, de Diana Andringa e Bruno Cabral, 7 mai; Alcindo, de Miguel Dores 11 jun; Outros Bairros, de João Ribeiro 3 set).
Interferências: Culturas Urbanas Emergentes > MAAT > Av. Brasília, Lisboa > T. 21 002 8130 > até 5 set, qua-seg 11h-19h > €9 (Central Tejo + museu)