Vhils no MAAT: “É como se estivesses perdido num mundo global, num labirinto”

Vhils no MAAT: “É como se estivesses perdido num mundo global, num labirinto”

Em 2014, o Museu da Electricidade anunciava com orgulho a primeira exposição individual do street artist Vhils num museu português. Dissecção, no edifício da Central Tejo, com várias obras, algumas delas feitas de propósito para ali, marcou uma nova relação do criador com o público português. Já não era só o autor das extraordinárias intervenções em paredes picotadas por berbequins, espalhando grandes rostos realistas pelas cidades, era, agora, um artista de pleno direito, com acesso às grandes galerias e aos museus.

Oito anos depois, ali mesmo ao lado, no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT, também ligado à Fundação EDP), é esse Vhils como artista global que se afirma. A exposição Prisma (com inauguração marcada para a próxima terça, 29) resulta, na verdade, das viagens de Alexandre, em trabalho, na última década. E foram muitas. Neste século, Alexandre, 35 anos, afirmou-se como um dos mais internacionais artistas plásticos portugueses de sempre, com projetos em vários continentes e um nome firmado no circuito da street art, no momento em que ela explodiu no mercado da arte.

Para a concretização de Prisma, tudo começou em 2014, em Hong Kong, numa grande temporada de Vhils na grande metrópole asiática. Foi aqui que nasceu essa vontade de “captar o agora, a banalidade do dia a dia na cidade”. Mas não de uma forma propriamente banal… Vhils usou para esses registos as mesmas “câmaras de balística” que lhe permitem filmar, com detalhe e lentidão, as explosões em algumas das suas intervenções em paredes por esse mundo fora. Filmando a “dois mil frames por segundo”, com a câmara instalada num automóvel em que percorre a cidade, consegue “fotografias com algum movimento”; três ou quatro segundos de captação de imagem podem transformar-se em dois ou três minutos de duração, numa lentidão extrema.

Mesmo sem ter, ainda, uma ideia clara do que fazer com esse corpo de trabalho, o método foi-se multiplicando nas várias cidades por onde Vhils passava com mais tempo. Em Prisma, encontram-se imagens recolhidas em nove grandes urbes: Hong Kong, Cidade do México, Cincinnati, Los Angeles, Macau, Paris, Pequim, Xangai e Lisboa. Na grande galeria oval do MAAT, o visitante mergulha nessas realidades desaceleradas sem saber para que cidades está a olhar. O som, a partir de registos captados nesses lugares, ajuda a criar uma sensação de imersão completa. Somos viajantes perdidos num mundo globalizado. “Prisioneiros da globalização”, nas palavras do artista, que recusa uma grande intencionalidade neste projeto, preferindo abri-lo a várias leituras e narrativas do público. “Tentei mostrar cruamente as cidades, eternizar momentos”, diz a dada altura, colocando-se na posição de simples voyeur.

Perdidos no labirinto

Todas as imagens foram captadas antes da Organização Mundial da Saúde ter declarado o estado de pandemia. E isso, claro, acrescentou camadas de sentido a uma exposição que nos põe cara a cara com momentos banais em várias cidades do mundo. “Isto tornou-se quase um testemunho de uma realidade que mudou completamente”, diz Vhils. “Não sabemos quantos anos vão ter de passar até voltarmos a uma certa inocência anterior à pandemia.”Mas se há um tema subjacente a Prisma, que funciona como chave de leitura para esta exposição, ele é a ideia de “globalização”. Há umas boas décadas, uma exposição como esta, em que um artista nos mostra imagens captadas em várias cidades do mundo, teria sempre, mais ou menos explícita, a componente do “exotismo”: “Vejam como o mundo é diverso!” Em 2022, a proposta de Vhils vai mais no sentido de aproximar quotidianos: “É como se estivesses perdido num mundo global, num labirinto, a globalização foi uma caixa de Pandora que, depois de aberta, não se consegue fechar; na pandemia sentimo-nos presos nos nossos lugares, mas a globalização continuou, as marcas continuam em todo o lado, há referências comuns a todas as cidades, podes nem saber bem em que cidade estás…”

Circular até 5 de setembro pela grande nave central do MAAT é, pois, uma oportunidade para refletirmos sobre semelhanças e diferenças, individualidade e coletivo. Cada um de nós e a Humanidade toda. Os ares da guerra também contaminam, inevitavelmente, uma exposição assim, que nos põe em ligação direta com os outros, a tal “banalidade” do mundo. Para onde vamos agora?

HONG KONG
“É uma cidade com uma história muito peculiar. E onde houve mudanças profundas nos últimos anos, não só por causa da pandemia, mas por todas as manifestações e contestação. Estive lá numa fase em que sentia alguma tensão no ar, mas antes da explosão nas ruas que se viria a revelar. É a ideia de metrópole levada ao extremo na utilidade e ocupação do espaço, num grande contraste com a Natureza envolvente.”

LISBOA
“Claro que foi um caso à parte, por ser a minha cidade, a que conheço melhor. Não é só mais uma cidade… E foi a última onde captei imagens para esta exposição. Em perspetiva, no contexto das cidades que já visitei, Lisboa parece-me das mais interessantes, em termos de diversidade, criatividade, identidade. Mas, lá está, é a cidade que conheço melhor, todas têm a sua história e peculiaridades. Optei por filmar em sítios menos óbvios, mas também no centro da gentrificação e do turismo.

CINCINNATI
“Fui a Cincinnati [Ohio, EUA] a convite de um museu. É a típica cidade do rust belt [“cinturão de ferrugem”, expressão que remete para grandes zonas industriais] norte-americano. O contraste social na cidade é abismal. De todos os sítios onde já estive, acho que foi aquele onde vi mais disparidade entre os que têm e os que não têm. Vê-se que sofreu bastante com o processo de globalização, e isso nota–se ainda mais em comparação com cidades emergentes noutros países.”

MACAU
“É um lugar muito peculiar. Senti esse choque entre a imagem clássica que havia em Portugal sobre Macau e o que aquela grande cidade é hoje. Há grandes contrastes a nível histórico e até político. Mas o que mais me marcou foi a maneira como se vive o espaço e a urbe de uma forma única, até pela grande concentração de população. Também me impressionou o grande contraste entre a parte antiga e as partes mais recentes dos grandes casinos.”

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