Algumas pedras vulcânicas, chão e fundo pretos, uma corda de enforcar dependurada, seis atores encostados à parede de trás. Esses homens e mulheres começam por avançar pelo palco, à vez, como se enfrentassem algo de tenebroso. Avançam e recuam. Voltam a avançar e voltam a recuar. Começa-se a percecionar o barulho do mar. Estas pessoas encontram-se numa praia, feita de areia negra. Ilhas é a nova criação do Teatro Meridional, integrado no projeto da companhia intitulado Províncias, que desta vez se debruça sobre os Açores, depois de, em 2019, ter apresentado Ca_Minho. Apresentado em dezembro no Teatro Micaelense, em Ponta Delgada, Ilhas apresenta-se em Lisboa no Teatro Nacional D. Maria II.
Se tivesse de definir os Açores numa palavra, o encenador Miguel Seabra utilizaria a palavra “impermanência”: “Os Açores são fascinantes, são muito inquietantes; há uma grande imprevisibilidade… Pessoalmente, não é um local onde me sinta muito tranquilo.” A sensação que tem é a de espanto, de queda, de deslumbre permanente.
Os homens e as mulheres em palco mimetizam gestos conhecidos de todos: puxam cordas ou linhas do mar, molham os pés, perscrutam o oceano. Sentem medo e correm a abraçar-se. Outras vezes, pelo contrário, lutam e esbracejam, porque os casos de violência doméstica não são raros nas ilhas. “Tivemos a possibilidade de apostar em diversas técnicas de trabalho com os atores e a música é uma paisagem sonora sempre presente”, explica o encenador deste espetáculo que se pauta pela primazia da linguagem corporal e gestual sobre a verbal. Mas Miguel Seabra quer deixar claro que “isto não é teatro de gesto nem de movimento, de dança”. E acrescenta: “Neste tipo de projetos, persigo ferozmente o ponto zero, o nada. É uma ambição privada, a de conseguir parar a mente do espectador, fazê-lo esquecer-se de onde está.”
Ilhas > Teatro Nacional D. Maria II > Pç. de D. Pedro IV, Lisboa > T. 21 325 0800 > 13-23 jan, qua-sáb 19h, dom 16h > €9 a €16