Disse esta arquiteta portuense, reinventada como desenhadora, que não imagina “maior coragem do que a de propor o que não existirá”. Ana Aragão, que já levou desenhos seus à Bienal de Veneza, cria paisagens urbanas babélicas, híbridas, um labirinto sentimental de referências, onde os edifícios desafiam a gravidade e a capacidade do observador. Depois do Porto ou de Lisboa, o Japão é agora o território explorado: são 47 os desenhos patentes em No Plan for Japan que, contou, invadiram a sua vida, começando no chão, alastrando para as paredes, apoderando-se dos seus sonhos. “Não prometo que seja muito intelectual (escrevo com o corpo, como a Clarice), não prometo que seja sério (embora seja feito com a maior seriedade possível), não prometo que seja introspetivo (it’s up to you), não prometo que seja literal (aliás, prometo o contrário) nem sequer prometo saber explicar tudo o que fiz.” Promessas à parte, esperam-se mapas impossíveis, anagrafias (termo com que batizou a sua particular caligrafia visual), desenhos meticulosos a caneta (agora incluindo modelos da Muji), construções herdeiras de esplêndidas referências como Escher ou Piranesi.
Este Japão, “mais imaginado do que vivenciado”, declina-se em seis “coleções”: Blind Dates, “encontros insólitos [que] dão origem a megaestruturas que deliraram depois de engolirem a cidade”; Forever Lost, uma “espécie de teoria sobre as relações”; Fictions dedicada a casas voadoras, cidades de bambu ou edifícios-origâmi, lê-se. Há ainda a série Kanji, exercícios a preto-e-branco; The Metabolic Ones, narrativas distópicas que reinventam o quadriculado da Nakagin Capsule Tower (concebida pelo arquiteto Kisho Kurokawa) e a verticalidade do Centro de Imprensa e Difusão Shizuoka; e Obi, uma dita sequência acerca da impossibilidade da repetição. Ideias-maquete para se construir belos encontros…
No Plan for Japan > Museu do Oriente > Doca de Alcântara Norte, Av. Brasília, Lisboa > T. 21 358 5200 > 5 nov-13 fev, ter-qui 10h-18h, sex 10h-20h, sáb-dom 10h-18h > €6, grátis sex 18h-20h