Durante diferentes momentos, em Quo Vadis, Aida?, o espectador sensível vai querer virar a cara, desviando o olhar da monstruosidade que está à nossa frente. Só que a realizadora, Jasmila Zbanic, não deixa. Virar as costas foi o que as Nações Unidas (ou o mundo) fizeram em 1995, nós temos de ver tudo até ao fim. Fazendo-nos perguntar: como isto foi possível, em plena Europa, há apenas 25 anos? E é com a angústia desta pergunta que se conserva a memória e se evitam novos erros.
Nomeado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Quo Vadis, Aida? confronta-nos com a mais bárbara das realidades do final do século XX, o massacre de Srebrenica. Em plena guerra bósnia, um insuficiente quartel das Nações Unidas começou a amontoar refugiados muçulmanos, fugidos dos ataques sérvios. Os esforços diplomáticos e bélicos de resposta à terrível ofensiva sobre a população civil revelaram-se insuficientes, e os responsáveis da ONU, isolados no campo, acabaram por entregar os refugiados ao terrível general sérvio Ratko Mladić, ingenuamente acreditando nas suas boas intenções. O resultado foi um criminoso processo de execuções sumárias.
O filme centra-se em Aida, funcionária local dos capacetes azuis, que serve de intérprete e, como tal, está no centro do processo de negociações. A partir de determinado momento, esta heroína e anti-heroína, de densidade humana, tenta, acima de tudo, salvar a sua família da tragédia iminente. Assim, enquanto se recorda a história global dos muçulmanos bósnios que foram dizimados pelas forças pró-Sérvias, conta-se uma história particular, empática, de uma mãe que tenta salvar os dois filhos. De um realismo arrasador, é um filme necessário, para que a Europa e o mundo enfrentem a sua própria História.
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Quo Vadis, Aida? > De Jasmila Zbanic, com Jasna Djuricic, Izudin Bajrovic, Boris Ler, Dino Bajrovic > 104 minutos