Daniel Farrands, realizador e produtor de cinema de terror, descobriu um filão nas mais mediáticas histórias de crime em Hollywood. Primeiro, aproveitando a onda levantada por Tarantino em Era Uma Vez em… Hollywood, lançou O Espectro de Sharon Tate, a recriação do horrendo homicídio da atriz americana, casada com Roman Polanski, 50 anos depois. Agora debruça-se sobre um caso mais recente, o muito mediatizado assassinato de Nicole Brown Simpson, ex-mulher da estrela de futebol americano OJ Simpson. Em ambos os filmes os spoilers são logo sugeridos no título e, mais ainda, na realidade ainda fresca na memória coletiva. Pelo que, ao contrário do que acontece nos habituais thrillers e policiais, não se propõem desvendar um crime, mas (re)construir uma história, um caminho para lá chegar. E fazem-no sem demasiada proximidade a um realismo, optando por um estilo glamoroso, algo perverso e de ética duvidável, ao mesmo tempo que adensam as histórias com ingredientes, por vezes sobrenaturais, ligados a traços de loucura provocada por terror psicológico, ou premonições da própria morte, que os situam no género do terror.
Se O Espectro de Sharon Tate mostrava como uma seita louca é capaz de destruir algo de belo e talvez feliz, com o glamour de Hollywood, aqui o verdadeiro assunto por detrás de uma história de crime é a violência doméstica na sua forma mais extrema. E por aí o filme ganha particular pertinência, atualidade e até universalidade – tanto é válido nos Estados Unidos como em Portugal, tanto nos anos 80 como agora, tanto na classe baixa como no jet set. Aliás, até determinado ponto, o facto de OJ ser uma figura mediática e poderosa, numa era pré-me#too, só faz com que a violência psíquica e física ainda se torne mais contundente e socialmente claustrofóbica. O Assassinato de Nicole Brown Simpson é cinematograficamente sofrível e moralmente perverso.
Veja o trailer do filme:
O Assassinato de Nicole Brown Simpson > De Daniel Farrands, com Mena Suvari, Taryn Manning, Nick Stahl > 82 minutos