Quando foi avisado, via conta do Instagram, da existência da exposição Banksy: Génio ou Vândalo?, então patente em Moscovo, o artista urbano manifestou aí a sua (o)posição: “Sabes que não tem nada que ver comigo, certo? Eu não cobro às pessoas para verem a minha arte a menos que haja uma roda gigante.” E, instado a tomar uma posição perante a “ilegitimidade” da iniciativa, Banksy mostrou-se consciente da ironia: “Não sei se sou a melhor pessoa para se queixar dos outros exporem imagens [minhas] sem a minha autorização.”
Desde os anos 1980 que o graffiter usa sem cerimónias ruas, muros e paredes, sobretudo com spray e stencil, para exercer uma arte corrosiva, povoada de crianças apanhadas num mundo sem inocência, macacos que mimetizam a arrogância humana, figuras subversivas ou subvertidas com um smile, sátiras a marcas (Disney, McDonald’s…), provocações às instituições – sejam a da monarquia britânica, a do Estado de Israel ou a da polícia (os chamados Bobbies são um alvo favorito seu).
Banksy defende que, com a street art, é “a primeira vez que o mundo da arte burguês pertenceu ao povo”. Todavia, a sua obra transcendeu as ruas, estando hoje em museus, galerias e leilões. E, nova ironia, há quem arrebanhe originais e serigrafias por milhões, guardadas nos menos democráticos cofres… Banksy: Génio ou Vândalo? é um título com falsa polémica: este seu “método de guerrilha” está assimilado pelo sistema. A mostra revela mais de 70 trabalhos cedidos por colecionadores privados: há originais, esculturas, instalações, vídeos, fotografias, e uma peça audiovisual com pistas para adivinhar a identidade do graffiter – outra ironia, já que este a camufla ciosamente (e alimentou a mística que levou muitos a compararem-no com Basquiat e Keith Haring).
Aqui, veem-se Menina com um balão e uma serigrafia semelhante à pintura vendida em leilão por 1,4 milhões de dólares e dotada com mecanismo de autodestruição, ao lado de um macaco que surfa numa bomba e faz o V de vitória, do icónico manifestante que atira um ramo de flores à maneira de cocktail molotov, ou até dessa pintura com dois bonecos infantis – um deles questiona se este tipo de arte é levado a sério, ao que o segundo responde: “Nunca subestimes o poder de uma grande moldura dourada”…
Banksy: Génio ou Vândalo? já esteve patente em Moscovo, São Petersburgo e Madrid, e, contabiliza a organização, foi visitada por mais de 600 mil pessoas.
Banksy: Génio ou Vândalo? > Cordoaria Nacional > Av. da Índia, Lisboa > T. 21 363 7635 >até 3 nov, dom-sex 10h-19h, sáb 10h-20h > €6 a €13 (há ainda modalidade de compra online com marcação de hora do bilhete)