Imaginemos que a história da menina Júlia continuava vida fora: fugia com o serviçal chamado João, compravam um hotel de beira de estrada, tinham filhos, os filhos cresciam, a vida era feita de momentos de fim de dia, de trabalho, beber um vinho, provar um presunto… Foi assim que Tiago Rodrigues deu seguimento à história deste texto clássico de Strindberg, que culmina com a visita de Cristina, noiva de João, muitos anos depois. Mas o melhor mesmo desta peça, escrita e encenada por Tiago Rodrigues, é o facto de desdobrar as três personagens em seis e de as pôr a confrontarem-se consigo mesmas quando eram mais jovens (aquando dos acontecimentos em A Menina Júlia), aproveitando para se colocarem, também, no lugar do espectador. O vinho e o presunto são verdadeiros e são servidos ao público.
“Além dos atores da casa, temos todos os anos estagiários da Escola Superior de Teatro e Cinema. Uma das coisas mais bonitas aqui é ver atores que estão há 40 anos nesta casa a transmitir conhecimento a outros que estão há 40 minutos nesta casa”, diz Tiago Rodrigues, também diretor do Teatro Nacional D. Maria II. As elipses são recorrentes e a questão da moral religiosa dominante foi retirada. “A versão de Strindberg aparece aqui como uma história que, hoje, já não seria vivida assim. Um pouco como quando alguém mais velho diz a alguém mais novo ‘isso que estás a fazer com 17 ou 18 anos no meu tempo era impossível porque…’.” explica Tiago. “Esse tempo é o do Strindberg e agora há gente que pensa ‘naquele tempo era complicado…’.” Daí a necessidade de colocar estas personagens a falar com o público, à semelhança de casais de pessoas mais velhas que já não falam entre si, mas que o farão se encontrarem um terceiro disposto a ouvi-las.
Um Outro Fim para a Menina Júlia > Teatro Nacional D. Maria II > Pç. D. Pedro IV, Lisboa > T 21 325 0800 > até 24 mar > qua e sáb 19h30, qui e sex 21h30, dom 16h30 > €11