Olhando para estas fotografias, pressente-se o desejo do fotógrafo em transmitir autenticidade, em valorizar a emoção acima do enquadramento formal, em criar uma epifania visual – ou, pelo menos, uma cena (cinematográfica?) em que o observador tem a ilusão de testemunhar um momento de nudez emocional. E poderiam evocar-se as palavras de Peter Lindbergh, o influente fotógrafo de moda que tem defendido, num preto-e-branco poderoso, um ideal feminino carismático e independente dos espartilhos da idade: “Deveria ser responsabilidade dos fotógrafos contemporâneos libertar as mulheres, e todos os outros, do terror da juventude e da perfeição.”
E pur si muove… Os corpos que enfrentam a câmara do austríaco Robert Nil Reed são jovens, bonitos, de proporções convencionadas como “perfeitas”, e desnudados em vários graus. Tanto o erotismo como a fotografia de moda são influências presentes (umas botas cor de rosa como único vestuário aqui, um cabelo cheio de ganchos numa poupa armada ali, um look outono-inverno captado no cais palafítico do Sul português…), e isso causa ruído na pureza desejada. Mas há imagens singelas, que ecoam a atmosfera intemporal dos cenários naturais das praias da Ursa e do Malhão, da Comporta, de Castelo de Vide: uma melancólica rapariga nua, de pé em frente a um mar sereno, olha para nós; uma outra abandona-se num jardim abandonado; outra, ainda, ergue-se como amazona sobre rochas…
Ao todo, são 22 as imagens patentes em Code of Silence. E, por entre os retratos femininos íntimos, há cenas de paisagens: rebentação de ondas num preto-e-branco bravio, um céu azulíssimo devedor da sensibilidade mediterrânica, uma simples casa de telhado em bico e paredes caiadas de branco isolada no meio do campo. Sinais da beleza redentora.
Code of Silence > Leica Gallery > R. Sá da Bandeira, 48-52, Porto > T. 22 766 4428 > até 30 mar, seg-sáb 10h-19h > grátis