Às fachadas do velho casario da Sé do Porto acrescentam-se retalhos de rostos e de histórias. A longa metragem Marias da Sé vagueia entre o documentário e a ficção, à semelhança do que acontece com o restante programa do Family Film Project (FFP), o Festival Internacional de Cinema de Arquivo, Memória e Etnografia, que decorre, entre esta segunda e sábado, dias 15 a 20, no Cinema Passos Manuel, no Coliseu do Porto e no Maus Hábitos, todos na Rua Passos Manuel. Realizado por Filipe Martins, o filme partiu do desafio lançado pelo Balleteatro (responsável pela organização, em coprodução com a Câmara Municipal Porto), para registar as vivências singulares desta comunidade, que divide o protagonismo com três atores profissionais – João Reis, Carla Bolito e Lígia Roque. “É a primeira produção do festival e enquadra-se dentro da linha etnográfica que também seguimos”, conta Né Barros, da direção artística do FFP. A estreia no Porto está marcada para esta quarta, 17, e é um dos destaques desta sétima edição do festival.
Apesar terem terminado com as inscrições gratuitas, receberam cerca de 500 candidaturas, de diferentes origens e formatos, tendo selecionado 12 filmes para serem apresentados nas sessões competitivas. Existem três áreas temáticas: Vidas e Lugares, com enfoque no registo voyeurístico, biográfico ou documental de habitats e quotidianos; Ligações, centrada nas dinâmicas interpessoais e comunitárias; e Memória e Arquivo, dedicada a olhares criativos a partir de testemunhos e de found footage. De Israel chega, por exemplo, #Work in progress, uma nova série dos conhecidos irmãos Heymann, que reúne ativistas sociais com os youtubers mais famosos do país. Da Suíça, vem Home, de Daniel Mulloy, uma inversão absurda da jornada dos refugiados. Do Irão é exibido Amour du Réel, de Iman Behroozi, um documentário sobre como o amor é encarado através de gerações. “A seleção espelha uma grande diversidade cultural e etnográfica que é muito positiva”, sublinha Né Barros. “São também produções muito distintas, tanto em meios como em intencionalidade artística, às vezes difíceis de categorizar”, acrescenta.
Como é habitual, o FFP não se esgotará na mostra de cinema. “Queríamos criar diferentes abordagens à temática da memória e do arquivo”, explica a diretora. No Maus Hábitos decorrerá o ciclo de performances Private Collection, com espetáculos de Joana Craveiro, Jorge Gonçalves e Miguel Bonneville, construídos a partir de materiais de arquivo, pessoais ou não, ou de problematizações da memória. No mesmo lugar, estarão patentes três vídeo-instalações. Foram ainda convidados Bill Nichols e Paula Rabinowitz, teóricos norte-americanos da área do cinema, para proferir duas masterclasses gratuitas. Serão também dedicadas duas sessões à obra de Daniel Blaufuks, com o artista a apresentar quatro dos seus filmes experimentais (Sob Céus Estranhos (2002), The Absence (2009), Carpe Diem (2010) e Como Se (2014), onde, mais uma vez, se exploram as relações entre o público e o privado, a memória coletiva e a memória individual.
Family Film Project > Cinema Passos Manuel, Maus Hábitos e Coliseu do Porto > R. Passos Manuel, Porto > 15-20 out, seg-sáb > sessões de cinema €3, passe geral €8, performances e masterclasses grátis