Os sóbrios cenários e figurinos de Nuno Carinhas são acompanhados por um rigoroso desenho de luz de José Álvaro Correia
João Tuna
Um naufrágio e o salvamento “milagroso” do pai de José, casado com Maria do Mar, prende o jovem casal a uma promessa de castidade conjugal. Enquanto o homem se refugia cada vez mais nos mistérios da fé, a mulher não esconde a frustração pela sensualidade reprimida. “Maldita promessa, maldito casamento, maldita família!”, exclama Rosa, mãe de Maria do Mar, no primeiro ato de A Promessa. “A reivindicação do prazer pela Maria do Mar é uma constante ao longo do texto”, sublinha o encenador João Cardoso. Foi o drama humano, ou seja, a repressão sexual da mulher, o desejo, a culpa e todas as tensões que se avolumam naquela casa (sobretudo, após a chegada de um forasteiro numa noite de tempestade) que lhe despertou o interesse pela obra de Bernardo Santareno.
Do Teatro Nacional São João partiu o convite a João Cardoso para encenar um texto de um autor português à sua escolha. Optou por Santareno, ao qual o TNSJ nunca tinha dedicado uma produção própria, pouco lido e representado na atualidade. A estreia nos palcos de A Promessa, em 1957, foi justamente no Porto, pelo Teatro Experimental do Porto, numa encenação de António Pedro. Na altura, conseguiram fugir à censura, mas não à pressão da Igreja Católica, que não terá apreciado o conteúdo e o ambiente de religiosidade erótica, forçando o espetáculo a sair de cena. “A questão religiosa é inerente à cultura portuguesa, ainda que a pressão da Igreja não se faça sentir tanto na atualidade, por isso preferi colocar o acento tónico no drama humano”, explica João Cardoso.
Para não ficar demasiado datado e agarrado à natureza neorrealista, a dramaturgia de Constança Carvalho Homem despojou o texto de alguns elementos (nomeadamente, cenográficos), que lhe poderiam conferir um caráter barroco ou pitoresco. A cenografia e figurinos de Nuno Carinhas são, aliás, de uma extrema sobriedade e elegância, acompanhados por um rigoroso desenho de luz de José Álvaro Correia.
A Promessa > Teatro Nacional São João > Pç. da Batalha, Porto > T. 22 340 1910 > 16 nov-3 dez, qua e sáb 19h, qui-sex 21h, dom 16h > €7,50 a €16
