Pediram-lhes para dançar e elas aceitaram. Quando ouviram canções da sua juventude, a reação dos corpos das avós sul-coreanas foi espontânea e genuína. Uma dança alegre e saltitante parecia iluminá-las por dentro. Eun-Me Ahn e uma equipa de quatro jovens bailarinos esteve cerca de um ano a percorrer as províncias rurais da Coreia do Sul e a registar os movimentos das idosas, em diferentes contextos. Agricultoras, feirantes, cabeleireiras, na sua maioria sexagenárias, algumas com mais de 90 anos, todas com uma energia admirável. “Conseguíamos ver, através dos seus corpos, a história moderna da Coreia, como se fossem livros de História do nosso país”, conta a coreógrafa. Os vídeos são exibidos a meio do espetáculo Dancing Grandmothers e revelam a inspiração dos figurinos gaiatos (com flores e bolinhas) e da ligeireza das coreografias da primeira parte.
Já com a tela em branco, uma dezena de avós sobe ao palco para se juntar aos jovens bailarinos e dança, em pares ou sozinhas, ao som de um caldeirão de músicas tradicionais e batidas tecno, com uma vivacidade contagiante. O espetáculo termina com um convite ao público para se juntar a este transe coletivo, sob os reflexos das bolas de espelhos suspensas. Esta é uma das peças de Eun-Me Ahn dedicada à sociedade coreana contemporânea. Começou por se focar nas memórias dançáveis das avós, saltou depois para os códigos e paixões dos adolescentes e, por fim, virou-se para os homens de meia-idade, alimentando as coreografias dos gestos do quotidiano de cada um desses grupos. Considerada “a Pina Bausch de Seul” (chegou a trabalhar com a coreógrafa alemã), testemunha nesta trilogia geracional os modos de vida e a cultura dominante da Coreia do Sul. Um retrato complexo, mas feito com muito humor e ternura.
Dancing Grandmothers > Teatro Municipal Rivoli > Pç. D. João I, Porto > T. 22 339 2201 > 3 nov, sex 21h30 > €10