
Magda Bizarro
As coisas não acontecem como nos livros, sabemos isso. É essa a tragédia de Madame Bovary, em fuga à condição de “tranquila mulher de médico da província”. Neste palco para onde Tiago Rodrigues trouxe a personagem de Gustave Flaubert, as coisas não acontecem sequer como nesse livro (ou não fosse esta exatamente uma peça de Tiago Rodrigues). “Sempre achei que era um romance de atores, por provocar interpretações, pelo que não é dito e o que não é mostrado”, nota o encenador. Em Bovary, junta o enredo do livro ao julgamento feito a Flaubert, acusado, por tê-lo escrito, de “atentado à moral e à religião”. Uma vez mais, Tiago Rodrigues reflete sobre a relação entre a linguagem artística e a sociedade, e sobre a forma como a lei entende a arte e como esta goza ou não de imunidade. Carla Maciel é Emma Bovary, Isabel Abreu interpreta um ambíguo Flaubert, Pedro Gil o advogado de acusação, Gonçalo Waddington o advogado de defesa, e Tiago Rodrigues, Charles Bovary: “cinco atores num palco a falar sobre um romance mais do que a fazerem esse romance”, sublinha o encenador. Por isso também, chamou alguns dos cúmplices que têm feito as suas peças nos últimos anos. “É um espetáculo de regresso à liberdade no palco, de atores com palavras e poucas regras, baseado na energia do imprevisto”, descreve. Talvez por isso, as coisas, na vida, não aconteçam também e infelizmente como numa peça de teatro.
Bovary > A partir de Gustave Flaubert > Enc: Tiago Rodrigues
Teatro Nacional D. Maria II > Pç. D. Pedro IV, Rossio, Lisboa > T. 21 325 0800 > 18-22 nov, qua 19h, qui – sáb 21h, dom 16h > €5 a €17
Teatro Nacional São João > Pç. da Batalha, Porto > T. 22 340 1910 > 26 nov-13 dez, qua 19h, qui-sáb 21h, dom 16h > €7,50 a €16