Os Targaryen são uma família um bocado nojenta, vista daqui de 2022, neste mundo ocidental que tem no incesto um dos grandes tabus sexuais. Vêmo-lo às vezes nas páginas dos tablóides e nos canais de notícias mais populares.
Lembramo-nos dos irmãos Carlos da Maia e Maria Eduarda, que se apaixonaram sem saberem que saíram do mesmo ventre (e que mesmo depois de saberem, enfim, a tentação é grande); Cíniras e Mirra, pai e filha em Metamorfose, de Ovídio… Ah, e claro, Édipo Rei, de Sófocles, a grande tragédia do teatro grego sobre o filho que mata o pai e se casa com a mãe. O livro de cabeceira preferido de Sigmund Freud.
Em A Guerra dos Tronos, o incesto entre Cersei e Jaime era secreto, proibido, uma escandaleira. A rainha e o seu irmão gémeo, pondo no mundo bastardos lourinhos que se iriam sentar no trono de ferro, coisa feia em Westeros, a falta de moral daquela espécie de Idade Média não chegava para tanto. Mas 300 anos antes, naquela mesma cidade imaginada por George R. R. Martin, outro galo cantava.
O galo chamava-se Aegon Targaryen, o Conquistador, descendente da única família dos senhores dos dragões que escapou à maldição da antiga Valíria. Por ter sido afrontado por um dos reis de Westeros, meteu-se à conquista do continente inteiro e tornou-se rei daquilo tudo (ou quase). Com ele iam as suas duas mulheres que eram também as suas duas irmãs. Uma alegre e outra mais séria. Por cada dez noites que dormia com a divertida, passava uma com a carrancuda… Já aqui dissemos que as mulheres eram mesmo muito mal tratadas naquela época, certo?
Passam mais 100 anos e os Targaryen continuam a casar pais com filhas, irmãos com irmãs, tios com sobrinhas, na ideia que isso mantém o sangue puro. Mas também aumenta a probabilidade de herdar a loucura da família. E assim continua. Ora, se o incesto é normal, o que deu na cabeça de Daemon para deixar a sobrinha Rhaenyra pendurada num bordel, com a cuequinhas nos tornozelos, ardendo de desejo pelo tio, sem no entanto ter apagado o fogo?
Daemon leva uma tareia monumental do irmão rei por ter dormido com a filha dele, a herdeira do trono. E o ator Matt Smith (para quem voltou a ver a série The Crown, com saudades de Isabel II, é o ator que interpreta o Duque de Edimburgo na primeira temporada) leva um aplauso monumental pela interpretação deste Daemon desbragado, irresponsável, ultra ambicioso, de longe a melhor personagem de Casa do Dragão até agora.
Rhaenyra ficou “pendurada”, mas vingou-se em Sir Criston, arrastando-o para a sua cama. Daemon quer casar com ela, mas o irmão, Viserys, não deixa. Daemon e Rhaenyra têm uma cena desde o primeiro episódio, acentuada pelo facto de comunicarem um com o outro em alto valiriano. Este par ainda vai tornar este linguajar entaramelado numa língua erótica, ao estilo do russo no filme “Um peixe chamado Wanda”.
O facto é que há química. E aqui pensamos na pobre Alicent, a adolescente que casou com o rei Viserys, homem de meia idade. E lá está ela, a dar o ventre ao manifesto, cumprindo o seu dever debaixo do corpo do monarca, a rezar para que o alívio real não tarde. Enquanto Rhaenyra solta o dragão que há nela.
Finalmente, o episódio não se esgota no prazer e desprazer da carne porque o rei descobriu a careca a Otto, sua Mão e seu sogro, que empurrou a filha para o leito real. É mesmo a fechar o pano, por isso vamos ter de aguardar pelo próximo para saber mais.