1. Mank, Netflix
Dez nomeações entre Melhor Filme, Melhor Realizador (David Fincher), Melhor Ator (Gary Oldman), Melhor Atriz Secundária (Amanda Seyfried), Melhor Banda Sonora Original, Melhor Fotografia
Neste filme-biografia sobre Herman J. Mankiewicz (interpretado por um brilhante Gary Oldman), quase tudo remete para os anos dourados de Hollywood: as imagens a preto e branco, os planos, os longos diálogos, os cortes entre cenas… Mank acompanha a vida do argumentista quando este se refugia numa fazenda para escrever Citizen Kane – O Mundo a Seus Pés, à guarda de uma zelosa secretária (Lily Collins), que procura mantê-lo afastado do álcool. Ao longo do filme, vários flashbacks remetem para encontros com a elite, os barões e as estrelas dos estúdios de Hollywood dos anos 30.
Realizado por David Fincher, o filme procura, de certa forma, acertar contas com a verdade, no que diz respeito à relação de amizade de Mankiewicz com o milionário William Randolph Hearst e a atriz Marion Davies – que terão inspirado as personagens de Citizen Kane –, ou quanto aos créditos pela autoria do argumento, partilhados com Orson Welles. Paralelamente, aborda o contexto político no pós-Grande Depressão e a propagação de notícias falsas pelos estúdios de cinema.
2. Os 7 de Chicago, Netflix
Nomeado para Melhor Filme, Melhor Ator Secundário (Sacha Baron Cohen), Melhor Argumento Original (Aaron Sorkin), Melhor Argumento Adptado, Melhor Canção Original, Melhor Fotografia, Melhor Montagem
Culpados. Ficou registado na História da América e da sua democracia que os sete homens, pertencentes a grupos distintos (líderes dos Estudantes para uma Sociedade Democrática, do Partido Internacional da Juventude, da mobilização para acabar com a guerra no Vietname e dos Panteras Negras), foram todos considerados radicais de esquerda disfarçados para incitar ao motim. “Os 7 de Chicago”, como ficaram conhecidos, só queriam uma revolução cultural ao manifestarem-se pacificamente na Convenção Nacional Democrata de 1968. Mas a situação descambou para confrontos muito violentos com a polícia.
Feito para a Netflix, o filme, com argumento e realização de Aaron Sorkin (The Newsroom, A Rede Social, Os Homens do Presidente, Uma Questão de Honra), recria o julgamento político deste grupo de homens, um dos mais mediáticos de sempre nos EUA. O grito “o mundo inteiro está a ver” (que não podia ser mais atual) dominou as palavras de ordem dos ativistas, à porta do tribunal. Desde que o julgamento começou, 4 752 soldados norte-americanos foram mortos na guerra do Vietname e um dos arguidos fez questão de não os esquecer. Os 7 de Chicago conta com um elenco de luxo: Eddie Redmayne, Alex Sharp, Sacha Baron Cohen, Jeremy Strong, John Carroll Lynch, Yahya Abdul-Mateen II, Mark Rylance, entre outros. S.C.
3. Sound of Metal, Amazon Prime Video
Nomeado para Melhor Filme, Melhor Ator (Riz Ahmed), Melhor Ator Secundário (Paul Raci), Melhor Som, Melhor Argumento Original, Melhor Montagem
O primeiro filme de Darius Marder como realizador é sobre um baterista de uma banda de metal que repentinamente perde a audição. Não se espere, no entanto, a história do desgraçado. Sound of Metal é uma viagem introspetiva, em que Ruben terá de se adaptar a uma vida nova – uma interpretação de Riz Ahmed aclamada pela crítica, que valeu ao britânico de origem paquistanesa a nomeação para Melhor Ator. Paul Raci também está nomeado para Melhor Ator Secundário no papel do guru do centro de aprendizagem de surdos. F.A.
4. Uma Noite em Miami, Amazon Prime Video
Nomeado para Melhor Ator Secundário (Leslie Odom Jr), Melhor Argumento Adaptado, Melhor Canção Original
E se Malcolm X, Cassius Clay, Jim Brown e Sam Cooke, grandes lendas ligadas à política, ao desporto e à música, se reunissem, uma noite, num quarto de hotel? O encontro dos quatro, em 1964, na Flórida, aconteceu mesmo e inspirou Regina King que, em One Night in Miami, se estreia como realizadora. O filme aborda as questões ligadas à comunidade negra nos Estados Unidos da América, numa conversa que começa por assuntos culturais, passa pela política e acaba nos direitos civis. Um tema bem atual, portanto. S.S.O.
5. Ma Rainey: A Mãe do Blues, Netflix
Nomeado para Melhor Atriz (Viola Davis), Melhor Ator (Chadwick Boseman, a título póstumo), Melhor Design de Produção, Melhores Figurinos, Melhor Maquilhagem e Cabelos
A história decorre nos loucos anos 20 do século XX, durante uma tarde de gravações no Hot Rhythm Recordings, em Chicago. A estrela Ma Rainey (uma quase irreconhecível Viola Davis, pesada, com maquilhagem carregada e dentes de ouro), a única personagem real do filme, considerada “a mãe dos blues”, é aguardada com ansiedade pelos músicos e pelo agente, além do dono do claustrofóbico estúdio.
A diva faz-se esperar e, quando chega, mostra-se temperamental e caprichosa, consciente de que, após terminar o seu trabalho, pouco interessará aos homens brancos que controlam a sua carreira. O trompetista Levee Green (o último papel interpretado por Chadwick Boseman, estrela de Black Panther, que morreu em agosto passado, aos 43 anos) procura um lugar ao sol na indústria discográfica, com os seus arranjos musicais arrojados, mas é desvalorizado pelos demais. À medida que as horas passam, o desgaste toma conta da equipa e a tensão sobe.
Esta adaptação de uma das mais conhecidas peças de August Wilson, duas vezes vencedor do prémio Pulitzer, feita pelo realizador George C. Wolfe (a produção é de Denzel Washington), não procura fugir à estrutura dramatúrgica original e mantém os longos e emocionados monólogos das personagens. É inevitável olhar com mais atenção para a atuação de Boseman, um magistral testamento do seu talento.
6. Borat, O Filme Seguinte, Amazon Prime Video
Nomeado para Melhor Argumento Adaptado e Melhor Atriz Secundária (Maria Bakalova)
Borat Sagdiyev pode ter saído do Cazaquistão, mas o Cazaquistão nunca saiu dele. Felizmente. Só assim o mundo fica a saber que afinal o “repórter estrangeiro estúpido” é o responsável pela disseminação mundial do novo coronavírus. Com tantos blockbusters adiados, é uma alegria poder ver O Filme Seguinte, realizado por Jason Woliner, com laivos de road movie documental e muita galhofa pelo meio. Há 14 anos, depois de Sacha Baron Cohen ter sido nomeado para o Oscar de Melhor Argumento com o primeiro Borat, viu a sua personagem condenada a prisão perpétua de trabalhos forçados. Agora, o Presidente do Cazaquistão encomenda-lhe uma missão em solo americano: entregar um presente para conquistar o respeito de “McDonald” Trump. Entrega de Suborno Prodigioso a Regime Americano para Fazer Benefício à Outrora Gloriosa Nação do Cazaquistão é aliás o resto do nome da produção.
Aos sete minutos de filme (1h36) já Borat anda pelas ruas dos EUA, reconhecido na rua e à procura de um disfarce. De 2006 para agora, encontrou um povo viciado em “calculadoras”, vai aprender a perguntar ao Google, mas continua a enviar um fax para comunicar com o seu líder. É o país em que as mulheres devem estar em gaiolas, os seus “palácios”, e têm de ser fracas, educadas e refinadas. Borat vai transformar a sua filha Tutar, interpretada pela jovem atriz búlgara Maria Bakalova, de “uma aberração a um borracho”. Selvática e sem discernimento, Tutar questiona se as mulheres podem ser donas de negócios, jornalistas, conduzir um carro ou fazer perguntas, e descobre que a verdade está toda escrita no Facebook. São alfinetadas umas atrás das outras para falar de aborto, menstruação, cirurgia plástica e masturbação.
Na impossibilidade de entregar a sua encomenda a Michael Pence, vice-presidente dos EUA, o seu próximo alvo é Rudy Giuliani, antigo mayor de Nova Iorque e advogado de “McDonald” Trump. Num quarto de hotel, Giuliani mostra grandes sorrisos e muita condescendência para com uma alegada jornalista deslumbrada com o conto de fadas de Melania. O resto é polémica e é tão bom. S.C.
7. Notícias do Mundo, Netflix
Nomeado para Melhor Banda Sonora Original, Melhor Som
Os filmes são para serem vistos num grande ecrã. Mais ainda quando o filme beneficia de uma boa fotografia que combina os grandes planos das pradarias do Oeste americano com um tom mais íntimo e centrado em dois atores. O título Notícias do Mundo é logo explicado nos primeiros minutos do novo filme de Paul Greengrass. Em 1870, cinco anos depois do fim da Guerra de Secessão, o capitão Jefferson Kyle Kidd (Tom Hanks) ganha a vida a ler notícias a uma população maioritariamente analfabeta. Anda de terra em terra com um maço de jornais, montando ao serão uma espécie de espetáculo pago a dez cêntimos por cabeça.
Num Texas violento, racista e intolerante, Jefferson Kidd (que combateu pelos confederados e perdeu a guerra civil) cruza-se com uma menina loura de olhos azuis, de nome Johanna (Helena Zengel). Uma relação terna começa então a desenhar-se entre os dois, e é nela que se desenrola a narrativa de Notícias do Mundo, baseado no romance homónimo de Paulette Jiles. Estrada fora, por um caminho que se faz de norte para sul, rumo a Castroville – para lá de San Antonio, a cidade natal a que Kidd não volta desde a guerra perdida –, o capitão e aquela miúda parca em palavras enfrentam juntos os seus demónios.
Notícias do Mundo pode ser um western bem-comportado que, à exceção de uma cena de tiroteio e de momentos de alguma tensão, causa um certo desencanto. Mas Greengrass não tenta inventar a roda e honra a tradição do género, ajudado pela banda sonora de James Newton Howard e pela bela fotografia de Dariusz Wolski, lá está. E, assim, ao fim de duas horas de filme não damos o tempo por perdido. I.B.
8. Pieces of a Woman, Netflix
Nomeado para Melhor Atriz (Vanessa Kirby)
Os primeiros 24 minutos do filme não são para qualquer um. Mas é nesta sequência impressionante de cenas cruas, de sofrimento sem filtros, da condição feminina de Martha (brilhante interpretação da atriz britânica Vanessa Kirby, 32 anos), mulher/mãe que resolve fazer o parto natural em casa, que reside todo o enredo de Pieces of a Woman. O momento que deveria ser de felicidade para Martha e Sean (Shia LaBeouf) – ela, executiva numa empresa; ele, operário da construção civil – acaba em tragédia, com a morte da bebé. O que se segue é a repressão da dor de uma mulher durante o luto e a consequente destruição da vida do casal, dominado pela mãe de Martha (Ellen Burstyn), que quer levar a parteira (Molly Parker) a julgamento. Pelo meio, imagens que testemunham a tragédia que se abateu sobre os dois: loiça suja na cozinha, plantas murchas, a infidelidade do marido, o gosto quase catártico de Martha pela germinação de sementes de maçã… tudo isto, com uma ponte em construção (onde Sean trabalhava) a assumir um papel cronológico no relato desta história passada em Boston.
Quando se estreou em competição, em setembro de 2020, no 77º Festival Internacional de Cinema de Veneza, Pieces of a Woman valeu a Vanessa Kirby (a princesa Margaret nas duas primeiras temporadas de The Crown) o prémio Volpi Cup para Melhor Atriz. O filme, o primeiro em língua inglesa do realizador húngaro Kornél Mundruczó (White God, vencedor da mostra Um Certo Olhar, em Cannes, 2014), com argumento de Kata Wéber, tem produção executiva de Martin Scorsese. F.A.
9. O Tigre Branco, Netflix
Nomeado para Melhor Argumento Adaptado (Ramin Bahran)
Ambos os filmes realçam os contrastes da sociedade indiana e seguem a vida, desde tenra idade, do protagonista. Em O Tigre Branco, adaptação do best-seller de Aravind Adiga, Balram Halwai (Adarsh Gourav) oferece-se para dizer toda a verdade sobre a Índia ao Presidente chinês, de visita ao país, usando como exemplo a sua história. Uma ascensão social e conquista da liberdade com muitos atropelos morais. Só ao alcance de tigres brancos. J.L.
10. EUA vs. Billie Holiday, Hulu
Nomeado para Melhor Atriz (Andra Day)
Depois de Viola Davis encarnar Ma Rainey, figura pioneira do blues, ouvimos agora Billie Holiday na voz de Andra Day, atriz e cantora que protagoniza o drama biográfico realizado por Lee Daniels, focado nos últimos anos de vida da diva do jazz. Eleanora Fagan Gough (1915-1959), para sempre conhecida como Billie Holiday, foi uma das primeiras cantoras negras a atuar com músicos brancos. Do seu repertório, em 1939, passa a fazer parte Strange Fruit, canção que compara os negros enforcados aos frutos das árvores do Sul e que viria a ser proibida nas rádios. Perseguida pelo FBI, a cantora lutou contra a dependência de álcool e drogas até morrer, aos 44 anos. S.C.
11. Soul – Uma Aventura com Alma, Disney+
Nomeado para Melhor Filme de Animação, Melhor Banda Sonora Original
Dizer que há filmes que são para todas as idades, mesmo quando os vemos pela mão dos filhos e sobrinhos, é um cliché bem verdadeiro. Foi assim com Divertida-Mente, da Disney Pixar, vencedor do Oscar de melhor filme de animação em 2016, e foi assim com Soul, filme que tem o jazz como pano de fundo para contar a história de Joe Gardner, um professor de música que sempre sonhou ser pianista numa banda – e o primeiro protagonista negro de um filme da Pixar. Soul era para ter estreado nas salas de cinema em junho de 2020, mas a pandemia, já se sabe, levou-o direitinho para a plataforma de streaming Disney+, no dia 25 de dezembro. Um excelente presente de Natal. I.B.
A ESTREAR EM BREVE EM PORTUGAL
12. Nomadland – Sobreviver na América. Estreia 19 abril
Nomeado para Melhor Filme, Melhor Realizador (Chloé Zhao), Melhor Atriz (Frances McDormand), Melhor Argumento Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Montagem
Zarpar na autocaravana foi a solução para muitos operários norte-americanos que, na crise económica de 2008-2009, se viram sem casa, sem emprego, sem poupanças, sem nada. Em Nomadland, Francês McDormand, a interpretar Fern, é das poucas atrizes profissionais do filme. O elenco conta com Linda May, Swankie e Bob Wells, verdadeiros nómadas, como mentores e companheiros de Fern na sua viagem pelas paisagens do Oeste americano. Com Nomadland – Sobreviver na América, inspirado no livro Nomadland: Surviving America in the Twenty-First Century, de Jessica Bruder, a chinesa Chloé Zhao foi a primeira asiática a ganhar um Globo de Ouro e a segunda mulher a vencer na categoria de Melhor Realizador. O filme – que já tinha saído do Festival de Veneza com o Leão de Ouro e do Festival de Cinema de Toronto com o Prémio do Público – segue agora para os Oscars. S.C.
13. Judas and The Black Messiah, HBO Max
Nomeado para Melhor Filme, Melhor Ator Secundário (LaKeith Stanfield), Melhor Argumento Original, Melhor Canção Original
É o primeiro filme de um trio de afro-americanos – Shaka King, Ryan Coogler e Charles D. King – a ser nomeado para os Oscars. Trata-se de um drama histórico sobre o assassinato do líder do Partido dos Panteras Negras, o afro-americano Fred Hampton (Daniel Kaluuya), assassinado aos 21 anos pelo FBI, por William O’Neal (LaKeith Stanfield), em Chicago, quando dormia com a namorada grávida, Deborah Johnson. A Portugal, Judas and the Black Messiah deve chegar ao serviço de streaming da HBO Max, previsto para o segundo semestre do ano. F.A.
14. Minari. Estreia 13 maio
Nomeado para Melhor Filme, Melhor Realizador (Lee Isaac Chung), Melhor Ator (Steven Yeun), Melhor Atriz Secundária (Youn Yuh-jung), Melhor Argumento Original e Melhor Banda Sonora Original
Esta longa-metragem, com argumento e realização de Lee Isaac Chung (Munyurangabo, Lucky Life, Abigail Harm), produzido pela Plan B de Brad Pitt, conta a história da família Minari, a viver numa pequena quinta no Arkansas, em busca do seu sonho. Chung, norte-americano de origem sul-coreana, baseou o argumento na experiência do seu pai que se mudou com a família para o Arkansas rural nos anos 1980. Minari conquistou o Grande Prémio do Júri e o Prémio do Público no Festival Sundance, em fevereiro de 2020. F.A.
15. Uma Miúda com Potencial. Estreia 29 abril
Nomeado para Melhor Filme, Melhor Realizador (Emerald Fennell), Melhor Atriz (Carey Mulligan), Melhor Argumento Original, Melhor Montagem
Emerald Fennell (Killing Eve) realizou um thriller sobre vingança. Uma Miúda com Potencial conta a história de Cassie (Carey Mulligan), uma jovem assombrada por uma tragédia que se vinga nos homens que tenham o azar de cruzar-se com ela. Mas nada na vida de Cassie é o que parece: inteligente e astuta, vive uma vida dupla e secreta durante a noite. F.A.
16. O Pai. Estreia 6 maio
Nomeado para Melhor Filme, Melhor Ator (Anthony Hopkins), Melhor Atriz Secundária (Olivia Colman), Melhor Design de Produção, Melhor Montagem
O drama emocional sobre a relação de Anne (Olivia Colman) com o pai (Anthony Hopkins), de 81 anos e com sinais claros de demência, que vive sozinho num apartamento em Londres e rejeita os cuidados das enfermeiras. A filha, por seu lado, precisa de ir para Paris para onde se mudou e vive com o novo companheiro. O Pai é a primeira longa-metragem do dramaturgo Florian Zeller, uma adptação da sua peça homónima apresentada em 35 países, que venceu o Prémio de Melhor Peça de Teatro do Prémio Molière (França, 2012) e do Prémio Tony (na sua adaptação para inglês, em 2016). F.A.