Programa de televisão nos últimos dois anos, a polémica da sua transmissão no streaming da Netflix levou a que, este ano, o Especial de Natal do grupo Porta dos Fundos ganhasse lugar no catálogo do YouTube. “Não gostar é opcional, respeitar é obrigatório”, já reza o argumento a propósito de ver Jesus como meliante. Depois de uma ceia de Natal com álcool e drogas e do aniversário de um jesus gay, agora, a ideia original de Gabriel Esteves, com argumento de Fábio Porchat e realizada por Rodrigo Van Der Put baseia-se em Democracia em Vertigem, de Petra Costa, sobre o processo de destituição de Dilma Rousseff e a eleição de Bolsonaro.
Para quem não viu o documentário, Fábio Porchat explica: “A história mais antiga da Humanidade relatada em Teocracia tem muitas semelhanças, porque, afinal de contas, foi um julgamento político, houve injustiças, há golpes, há vinganças, há partidos políticos tramando a morte, há poderosos querendo ocultar coisas. Do que estou falando, do Brasil ou de Jesus?”. Fica a dúvida, mas mais do que abordar a degradação do sistema político brasileiro, o coletivo de humor centra-se na “degradação da sociedade brasileira”, que se tornou “um povo briguento, que discute, que bate, que agride, que grita, que xinga, intolerante. Como decaiu um projeto de Brasil”.
Este não é o primeiro trabalho em que Fábio Porchat ouve as opiniões dos especialistas. Para a websérie Viral, contou com uma infeciologista e um portador do VIH; em Homens?, foi ouvir mulheres; em Teocracia, chamou os pastores Henrique Viera e Caio Fábio, que chegaram a sugerir piadas. “Por exemplo: o rapaz que ajudou Jesus a segurar a cruz foi Simão de Cirene, e o pastor Caio Fábio disse: ‘Cirene é um lugar em África’, ou seja, Simão era negro, então escolhi um ator negro.”
O estilo documental pode dar a ideia de que Teocracia em Vertigem é mais sério do que as produções anteriores, mas é preciso ver além do palavrão. “Tem pessoas a falar mal de Jesus e de Deus. Só que, como tudo isso está na boca de gente que a gente detesta, talvez choque menos”, explica Fábio. “Talvez seja mais sério nesse sentido, por ser um documentário e usar muita referência política e tenha tanta camada, a gente assiste com mais pé no chão, mas acho que está tão libertino quanto os outros.”
Teocracia em Vertigem > Disponível no YouTube