LISBOA
1. Vino Vero
Por estes dias, Giulia Capaccioli, 32 anos, e Massimiliano Bartoli, 51, ambos de Florença, andam a vindimar nas ilhas Canárias com a produtora de vinhos naturais, Victoria Torres Pecis. Quanto melhor conhecem os seus fornecedores mais pormenores podem depois revelar aos clientes. No Vino Vero, wine bar aberto há três anos na Graça, bebe-se vinho e conta-se a história “do trabalho atrás do copo”, onde é feito, por quem e como. “O vinho é sincero, a terra não mente”, assegura Giulia. O casal conheceu-se em Veneza, onde, há sete anos, Massimiliano montou o primeiro Vino Vero, que se mantém a funcionar, e onde Giulia trabalhava. Procuraram outros lugares em muitas capitais europeias, mas só em Lisboa sentiram a boa energia para se fixarem. O Vino Vero só tem vinhos naturais, “feitos com a menor intervenção humana, seja na agricultura seja na adega”, explicação simples dada por Giulia, que os sente como “a expressão de uma filosofia, de um sítio peculiar, de um terroir”. Aos vinhos de todo o mundo, incluindo os de uma dúzia de produtores portugueses, juntam-se ostras (€2,50 cada), burrata, anchovas e tomate (€15), ceviche de atum (€9), carpaccio de espadarte e pinhões (€11), tábua de queijos (€15) ou pastrami (€8). Neste recanto da Graça, com o pitoresco Arco da Travessa do Monte à porta, o sujeito é o vinho. Cada copo vai dos quatro aos dez euros (e já é um bom Barolo italiano). Tv. da Senhora do Monte, 30, Lisboa > T. 21 886 3115 > seg-dom 18h-24h, sex até 1h
2. Holy Wine
Com dois lugares sentados ao balcão e alguns pufes e mesas no exterior, não se deixe intimidar pelo tamanho e pela simplicidade deste bar de vinhos na Calçada da Estrela. No Holy Wine, há cerca de 80 marcas escolhidas pelas russas Kate Rodionova, proprietária do restaurante Bowls&Bar também em Lisboa, e Sasha Sutormina, jornalista especializada em vinhos e gastronomia. Aqui, privilegiam-se os vinhos naturais, biológicos e biodinâmicos feitos em Portugal e no estrangeiro, até porque não há fronteiras para a qualidade. Por isso, tanto encontramos referências de vinhos produzidos em Borgonha como de outros menos conhecidos produzidos na região de Lisboa – todos de pequenos produtores que valorizam os métodos artesanais. Para acompanhar, há ostras de Setúbal, húmus de beterraba, gaspacho e tábuas de carnes frias ou queijos. O Holy Wine até pode ocupar um espaço ínfimo, mas está cheio de vida e de histórias para contar. Fica a dica: se gosta de vinhos com alguma salinidade, o melhor é pedir um copo do branco Clemens Busch Riesling, da Alemanha, que por aqueles lados recebe cinco estrelas. E merece cada uma. Cç. da Estrela, 15, Lisboa > T. 93 441 3708 > qua-dom 13h-21h
3. Plantasia
Numa antiga garagem de automóveis, há agora uma galeria de arte, música a cargo de um DJ e um bar de vinhos naturais, onde se destacam referências de Portugal, França, Itália, Áustria e, por vezes, da Geórgia, para saborear. No Plantasia, nome inspirado no disco do compositor canadiano Mort Garson, os vinhos mudam com frequência, até porque são de pequenos produtores, explica Marcos Anjos, que com Alice Turnbull gere este projeto que junta diferentes expressões artísticas em Arroios. Marcos cruzou-se com estes vinhos, sem aditivos e de fermentação natural, por mero acaso. “Provei pela primeira vez num restaurante em Lisboa e posso dizer que fiquei apaixonado.” No bar, aos vinhos brancos, tintos, rosés e espumantes juntam-se ainda os orange wines, produzidos a partir de uvas brancas e cujo processo de produção é semelhante ao dos tintos, em que as cascas permanecem durante a fermentação. R. de Arroios, 93, Lisboa > T. 96 026 0216 > qua-sáb 18h-24h
4. Senhor Manuel
Descemos a rua íngreme, a dois passos do Jardim da Estrela, com o sol do final da tarde a guiar-nos até à esquina onde fica o irmão mais novo e vizinho da frente do Senhor Uva, restaurante aberto, há três anos, por Marc Davidson (escanção) e por Stéphanie Audet (chefe). Faz três meses que a antiga mercearia no senhor Manuel, há mais de 50 anos no bairro, ganhou novas funções para fazer crescer o projeto gastronómico do casal do Quebeque, Canadá. Os vinhos naturais têm agora uma garrafeira com dezenas de referências deitadas na parede e um wine bar com 15 lugares, com uma seleção semanal, para pedir a copo, de um rosé, um de curtimenta (orange wine), dois brancos, dois tintos, um espumante e o menos comum, o rosé à pressão, o Cabernet Franc, de Sébastien David, referência do Loire francês. Ao branco Roussette de Savoie 2019 ou ao Poiré Authentique, de Eric Bordelet, marco na produção de sidra francesa, na Normandia, podem juntar-se ostras (€2,50 cada), húmus e tomate (€5), caponata e rúcula (€7), burrata e tomate (€8), escabeche de mexilhão (€7), tábua de queijos (€15). Para Marc e Stéphanie, que já andam à procura de uma quinta, o próximo passo é produzir o próprio vinho natural. Venha ele! R. de Santo Amaro, 61, Lisboa > T. 21 396 0917 > qua-dom 17h-24h
5. Black Sheep
Quando abriu portas, em agosto de 2018, na Praça das Flores, o Black Sheep ficou conhecido como o bar de vinhos mais pequeno de Lisboa. Mas não só. Também os vinhos ali servidos, na sua maioria naturais, orgânicos e biodinâmicos, de produtores independentes de vários países, ganharam apreciadores habituais.
Para beber ao balcão ou nas mesas, lá fora, sugere-se, por exemplo, o Mike Tazem branco, um encruzado do Dão, da vila de Tazem, vinificado na região de Lisboa, sem adição de sulfitos e com estágio em barricas francesas usadas; ou o Laherte Frères Les 7, intenso e texturizado, um dos pouquíssimos champanhes que usam as sete uvas regulamentadas daquela região francesa, com um preço muito acessível. A funcionar também como loja, com serviço de entregas em Lisboa, o bar tem cerca de 150 referências disponíveis em garrafa. A copo, são pelo menos 15, entre brancos, tintos, verdes, rosés e espumantes (dos €3,50 aos €6,50). Pç. das Flores, 62, Lisboa > T. 93 894 6752 > seg-sáb 17h-24h
PORTO
6. A Cave do Bon Vivant
À primeira vista, é difícil dissociar A Cave do Bon Vivant do restaurante que antes esteve no seu lugar, embora os sinais de um passado recente se resumam às mesas suspensas e ao protagonismo do vinho, agora ainda mais evidente. O sucesso de um wine bar em Paris foi razão suficiente para Stan Wallut e a mulher tentarem reproduzir a ideia no Porto, cidade onde o casal encontrou a tão ansiada tranquilidade. E, claro, a proximidade do mar, onde, com regularidade, vai surfar com os filhos. Em agosto de 2020, abriram este bar dedicado aos chamados vinhos naturais, orgânicos ou biodinâmicos. Com centenas de referências de 250 pequenos produtores de Portugal, Espanha, Itália, França e Áustria, disponíveis a copo (a partir de €4), a carta muda a cada dois meses. “O mais importante é o cliente sair de cá com um sorriso no rosto”, nota o bem-humorado Stan, enquanto serve “um vinho fresco, suave, para beber no balcão, sem comida”, descreve. E que bem sabe, diga-se. Se a garrafeira não tem fronteiras, o mesmo se pode dizer da comida confecionada com ingredientes frescos do Mercado do Bolhão. No menu, que varia todos os dias, poderá encontrar-se burrata fumada (€8), tártaro de abacate com salmão (€6,50) ou filet mignon com puré de cenoura (€11), e nunca faltam as tábuas de queijos e charcutaria (a partir de €10). Falta apenas dizer que Stan não serve água, mas há limonada aromatizada com menta disponível – e é grátis. R. de Santa Catarina, 763, Porto > T. 22 208 2491 > ter-sáb 18h-22h
7. Prova Wine, Food & Pleasure
Aberto desde 2012, o Prova foi o primeiro wine bar do Porto a ter uma escolha de vinhos de pequenos produtores, com pouca intervenção na adega. Além de destino de eleição para apreciadores de vinho e de boas safras, durante muito tempo foi mesmo o único lugar com uma seleção criteriosa e menos óbvia. São mais de 300 referências, quase todas de produção biológica ou biodinâmica, entre as quais estão sempre 60 disponíveis a copo (€3 a €40), a dar conta que “o vinho aqui é rei”, sublinha Diogo Ribas Amado, responsável pelo projeto. “É uma carta muito heterogénea, com diferentes perfis de vinhos de diversas regiões do País e alguns do mundo”, continua. De diferente, o Prova tem ainda a cuidada seleção de queijos e de charcutaria, além de opções quentes, como empadas do chefe Adão Torcato, para um jantar leve, em versão finger food. Quem se apaixonar por um vinho poderá levar uma garrafa (a partir de €14) para casa. Se, a tudo isto, somarmos o ambiente descontraído, o charme das paredes centenárias, com o granito original à vista, e o piano, não se estranhará que a banda sonora siga ao som de jazz, blues e soul. Faça-se um brinde às coisas simples e bem pensadas. O Prova merece. R. Ferreira Borges, 86, Porto > T. 91 649 9121 > seg, qui-dom 17h-1h
8. Taberna Folias de Baco
Folias de Baco é, em primeiro lugar, uma marca de vinhos criada pelo enólogo Tiago Sampaio, em 2007, e só depois foi uma taberna, de portas abertas há oito anos, no Porto. À entrada, há um cão de louça e veem-se palavras pintadas em azulejos. Já os vinhos estão acomodados ao fundo, junto à cozinha, neste lugar onde tudo tem ar de tasca antiga, embora, na verdade, nunca o tenha sido. Com apenas cinco mesas, no Folias “só se vendem os vinhos Uivo, produzidos pela própria casa”, diz o gerente César Figueiredo. A acompanhar brancos, tintos, orange wine (de curtimenta) e espumantes, a copo (€3 a €5) ou em garrafa (€12 a €20), servem-se moira, chouriça, alheira, carne fumada e queijo de pequenos produtores do Douro. Ao jantar, prove-se tudo isto no menu de degustação (€30/2 pessoas), que inclui dois copos de vinho e um torricado (de cogumelos, tomate ou presunto). R. dos Caldeireiros, 136, Porto > T. 22 320 5226 > qui-dom e seg 18h-24h
E duas garrafeiras para abastecer a despensa
Rebel Rebel, Lisboa
Aberta há dois anos, na zona da Estrela, a Rebel Rebel é uma referência no mundo dos vinhos naturais, biodinâmicos e biológicos. Além de empresa de importação e de distribuição, funciona como loja e bar, onde há cerca de 300 referências (apesar de se contarem apenas 25-30 nas prateleiras), produzidas em Portugal, França, Itália, Alemanha, Espanha, Áustria, e ainda sidras da Suécia. Tv. de São Plácido 48A, Lisboa > T. 91 560 5656 > seg-sex 16h-20h
Candelabro, Porto
Abriu no final de 2020, na porta contígua ao café Candelabro, esta garrafeira, com o mesmo nome, que oferece uma extensa carta de vinhos. Entre brancos, tintos, biológicos e Pét-Nat (Pétillant-Naturel, termo francês para espumante natural), há cerca de 400 rótulos, a maioria feita com intervenção mínima na adega e grande parte de origem nacional. São vinhos escolhidos entre pequenos produtores, que podem comprar-se para beber em casa ou na esplanada do lado (acresce taxa de serviço €4 a €7). Lg. Mompilher, 5, Porto > T. 91 221 6892 > seg-sáb 14h-20h
Glossário
Um vinho natural pode não ser biológico ou biodinâmico
Natural > Durante o processo, não há intervenção. O trabalho é feito sobretudo na vinha e menos na adega, respeitando o território. Também se usam sulfitos, mas primeiro analisa-se a quantidade de leveduras das uvas e só se adicionam na medida necessária. Como não são filtrados, podem ser turvos
Biológico > É feito com uvas de produção biológica, em que os solos são revitalizados e enriquecidos apenas com matéria orgânica
Biodinâmico > Resulta de um modo de produção (biológica e dinâmica), na qual se leva em consideração não apenas as uvas, mas um ecossistema saudável, que vai das videiras aos animais e plantas ao redor
Orange wine > Trata-se de um vinho de curtimenta. É feito com uvas brancas e a produção é semelhante à dos tintos, em que as películas não são retiradas durante a fermentação. Apresenta cores fortes, desde o âmbar ao laranja, e sabor mais intenso