Miguel Januário (±MAISMENOS±) inventou umas palavras cruzadas para preencher sem regras, Júlio Dolbeth criou uns desenhos para bordar e Tamara Alves lembrou-se daqueles exercícios da escola para unir pontinhos, que se correr bem, há de dar vida a uma imagem. Nesta Sebenta da Quarentena, os 40 passatempos que a compõem foram criados especialmente para a população mais velha, numa iniciativa que visa minorar os efeitos do isolamento social desta faixa etária, a mais afetada pelo estado de emergência que pede para ficarmos todos em casa.
A ideia partiu de Lara Seixo Rodrigues, da plataforma artística Mistaker Maker, a mesma que desenvolveu o programa Lata 65, os workshops de arte urbana que pôs maiores de 65 anos a grafitar. “O bem-estar dos mais velhos está no nosso ADN”, sublinha Lara que andou a matutar sobre o que podia fazer para “os ajudar a ocupar o tempo e mostrar-lhes que há pessoas que se preocupam com eles”.
Foi assim que nasceu a Sebenta da Quarentena, um compêndio de ilustrações para pintar (com histórias, mensagens, inícios de conversa), quebra-cabeças, palavras cruzadas, sopa de letras…. “Tem um bocadinho de tudo aquilo que achamos que pode ser uma nova forma de comunicar entre idosos e outras gerações, entre avós e netos, nestes tempos estranhos que se vivem”, refere Lara. As atividades foram desenhadas por 40 autores convidados, como Mariana A Miserável, AkaCorleone, Clara Não, Nuno Sarmento, Pantónio, Cláudia Guerreiro, João Fazenda e André Letria, entre tantos outros. Reuni-los parecia uma tarefa difícil, mas na verdade demorou apenas 12 horas: “Todos disseram logo que sim e perceberam a mensagem de apoio e conforto que queríamos passar a esta geração”, conta Lara. E a adesão foi tanta que já têm artistas confirmados para um segundo volume, ainda sem data de lançamento.
Nesta primeira sebenta, há ilustradores, artistas plásticos, calígrafos, escritores e artistas urbanos, desafiados a “criar algo que fosse capaz de despertar empatia no idoso, arrancar-lhes um sorriso, levantá-los do sofá, firmarem um pensamento positivo e alimentar-lhes a alma”. No fundo, também é disto que se fala. “Não basta preocuparmo-nos com a saúde física, também é importante a saúde mental e a alma”, justifica Lara Seixo Rodrigues.
A Sebenta da Quarentena é grátis e será distribuída em vários pontos do País (da impressão à entrega, todo o trabalho foi pro-bono). “Estamos a falar de idosos em isolamento, muitas vezes sem acesso a tecnologia, era preciso entregar em papel”, explica Lara. Junto, seguem lápis de cor e outro material de pintura, cedido pela Viarco.
Poucas horas depois do lançamento, os responsáveis pelo projeto perceberam que a Sebenta se tinha transformado num instrumento de trabalho. “Recebemos vários pedidos provenientes de orientadores, animadores, responsáveis de lares, centros de dia, universidades seniores, que querem trabalhar com ela”. O entusiasmo, fê-los dar mais um passo. “Decidimos pôr a sebenta online, para chegar a toda a gente. Estamos a propor desafios aos idosos, mas, na verdade, podem ser feitos por qualquer pessoa”, nota Lara.
A Sebenta da Quarentena tem sido um rastilho de boas ações, já que com ela nasceu também uma rede de voluntariado: muitas pessoas têm-se proposto a distribuí-la pelos vizinhos, familiares e amigos, e várias juntas de freguesia de Lisboa associaram-se à iniciativa, levando a sebenta com os bens essenciais que distribuem. “A nossa quarentena é leve e positiva, vemos a Sebenta da Quarentena como uma forma de comunicação entre toda a gente, e, por isso, pedimos para nos enviarem os resultados. Queremos mostrar e saber o que andam a fazer”, desafia Lara.
Sebenta da Quarentena > www.sebentadaquarentena.com