Quem por aqui vai parando já sabe que volta e meia regresso a Norberto de Araújo e às suas deliciosas Peregrinações em Lisboa. Quando foram publicadas, no final dos anos 30, ninguém dava a conhecer a cidade como ele e, ao fim de tanto tempo, é ainda pela sua mão que apetece andar a pé por aí, de nariz no ar.
Não fosse Norberto de Araújo e a varanda do número 11 da Rua do Limoeiro continuaria a ser conhecida na minha família apenas como “a banheira”. Parece mesmo, escreva-se, mas acrescente-se o que aprendi agora: aquele “singular balcão de pedra e em feitio de concha sem caneluras”, único em Lisboa, poderá ter vindo das derrocadas e transformações do Paço a-par-de S. Martinho.
Pertence a dita varanda ao velhinho Palácio dos Condes de Ferreira e de Tentúgal, situado mesmo defronte da Casa do Guarda da antiga cadeia do Limoeiro, junto à qual se ergue uma invulgar Phytolacca dioica L. O nome comum desta árvore classificada de Interesse Público é um adequado bela-sombra e amamos quando ficamos a saber que, segundo a tradição, seria naquele local que D. Leonor Teles, a Aleivosa, namorava o Conde Andeiro, um nobre galego feito seu conselheiro e amante ainda D. Fernando era vivo. Hoje, as suas raízes ao sol são um chamariz para crianças e turistas.