Se as conversas são como as cerejas, a melhor cereja veio quase no fim. Elogiava-se o atelier de arquitetura que recuperou a loja (o CAL 30); o café que aqui é servido (da empresa familiar Flor da Selva); o pão, que também vem da vizinhança (da Gleba); a esplanada que se abriu, ao fundo, no logradouro. Para, em suma, explicar a vontade de que a Tinta nos Nervos seja “um sítio bom de vir”.
Falávamos com Ana Ruivo e com Pedro Moura, 47 e 45 anos, respetivamente, dois dos seis fundadores da livraria que é também galeria de arte, cafetaria e tudo o mais que, entretanto, fizer sentido (Luís Azeredo, Vanessa Alfaro, Anabela Almeida e Frederico Duarte são os restantes fundadores). Há pouco mais de um mês, numa antiga loja de restauro da Rua da Esperança, no bairro lisboeta da Madragoa, abriram a Tinta nos Nervos. Que assim se chama porque pretende agregar tudo o que diga respeito às artes do desenho. “Ainda haveremos de descobrir a melhor forma de articular o café com o desenho”, diz Ana, a brincar.
Na galeria, está agora a exposição Fio da Navalha, com obras de Pedro Proença, Ema Gaspar, José Cardoso e William Kentridge. Na parte da livraria, entre banda desenhada, manga, anime e livros de arte, há edições portuguesas e também estrangeiras, em proporções mais ou menos iguais. “A nossa ideia era de que a oferta da Tinta dos Nervos não se sobrepusesse à oferta das livrarias que já existem e que nós conhecemos bem”, explica Pedro. Uma das estantes está dedicada aos livros para crianças, numa seleção cuidada que inclui volumes das editoras nacionais de referência (Pato Lógico, Orfeu Negro e Planeta Tangerina…).
“Existe uma atenção das pessoas em relação ao desenho, que está a ser incentivado e acarinhado um pouco por todo o lado. O desenho habita o nosso quotidiano e, por isso, interessa-nos que este sítio dê visibilidade a esses trabalhos”, continua Ana. De quando em quando, vão também organizar workshops: o primeiro, com Yara Kono, aconteceu no sábado passado, 6; os próximos vão decorrer com Alexandra Baudouin (dia 13), Catarina Sobral (dia 20) e Sérgio Sequeira (dia 27). Crianças e adultos são bem-vindos. Ou não fosse a Tinta nos Nervos “um sítio bom de vir”. E, sobretudo, de estar.
Tinta dos Nervos > R. da Esperança, 39, Lisboa > T. 21 395 1179 > ter-sáb 10h-19h