Dina Ferreira da Silva mantém a Poetria, no Porto, desde 2003
Lucília Monteiro
O discurso oscila entre o romantismo e o pragmatismo. Quando abriu a Poetria, em 2003, Dina Ferreira da Silva, 72 anos, julgava ter identificado um nicho com potencial. “Sempre que ia a uma livraria encontrava apenas um pequeno escaparate dedicado à poesia e, por isso, pensei que seria interessante contrariar esta massificação”, conta. O fascínio pela poesia sempre o teve, “uma linguagem misteriosa que ninguém sabe de onde vem, mas que nos ajuda a responder a muitas questões”. É a mais antiga lojista das Galerias Lumière, no Porto, a única que resistiu, com muitas dificuldades, às várias tentativas de revitalização do centro comercial, desenhado na década de 70. “Não sei o que me faz continuar… Às vezes penso que é um sonho insensato”, diz.
Nas prateleiras da Poetria estão os clássicos, os modernos e os novos autores, muitos portugueses. “Sermos um País de poetas não é frase feita e continuam a aparecer jovens poetas com muito valor”, assegura Dina. Ao longo destes 13 anos, a Poetria passou por momentos de crise. “Sofro um desgaste diário terrível, mas há sempre alguém que chega e que me permite manter as portas abertas.” O primeiro sufoco financeiro foi em 2006. Dina lançou um apelo público, expondo a situação, onde incluía um verso de Manuel de Freitas: “Abraça-me com força agora que vou morrer”. As pessoas acorreram e evitaram que a livraria fechasse. “Uma coisa inédita.” Há cerca de três anos, foi criada a Cena Poética, associação que se ocupa das suas iniciativas culturais e editoriais. “Quem gosta de poesia tem, normalmente, uma boa base literária. Encontro pessoas muito interessantes, com quem aprendo muito”, revela. Também há quem chegue sem nunca ter lido poesia. “Encontrar o livro certo para alguém é uma grande responsabilidade.” E Dina demora o tempo que for necessário para o conseguir.
