1. Passagens, de Rita Basílio (org.)
A vida como um puzzle. Este livro começou por ser pensado como uma fotobiografia dedicada ao poeta e jornalista Manuel António Pina. Pode-se dizer que o objetivo foi cumprido, mas Passagens é bem mais do que isso. Fotografias, desenhos, documentos e uma iconografia variada juntam-se a palavras do escritor sobre o seu percurso, retiradas de entrevistas e textos seus, e a alguns testemunhos de quem o conheceu bem. Chegados ao fim, sentimos que todas as (muitas) peças encaixam na perfeição e temos à nossa frente um excelente retrato deste homem que nasceu no Sabugal, em novembro de 1943, e morreu no Porto, em outubro de 2012. Todas as dimensões são percorridas, e as essenciais – a família, a obra, a poesia, o jornalismo… – confundem-se com as que, só aparentemente, podem parecer secundárias – o bigode, os gatos, o snooker…
Na introdução, Em Forma de Homenagem, explicita-se o sentido mais profundo desta edição cuidada: “Manter Manuel António Pina entre nós.” E o método seguido: “Não foram os factos que nos moveram, mas os afetos e os encontros que as circunstâncias permitiram.” O próprio Pina (assim o chamavam os amigos, pelo curto apelido) escreveu um dia: “Nós nunca pertencemos a sítio nenhum, somos seres de passagem. Nessa situação de passagem, há algo que fica, nem que seja uma sombra, e precisamos desesperadamente dessa sombra.” Nestas páginas revela-se, decididamente, “algo que fica”, entre sombras e luzes. Pedro Dias de Almeida Várias Vozes & Textiverso, 240 págs., €30
2. Fala com Ela, de Inês Meneses
Sabemos, por experiência própria, que fazer boas entrevistas é uma arte mais difícil do que aparenta. E, nessa arte, Inês Meneses é uma mestra. Há 18 anos que assina na rádio, primeiro na Radar e depois na Antena 1, o premiado programa Fala com Ela, conduzindo com mestria conversas intimistas e inteligentes, momentos de partilha que inquietam, emocionam e fazem pensar. Neste livro, Inês recolhe 14 entrevistas com personalidades nacionais e internacionais, no qual constam nomes como Miguel Esteves Cardoso, Rui Reininho, Gregório Duvivier, Fausto, Paula Rego, Adriana Calcanhotto, Ana Moura, Bernardo Sassetti ou Herman José, e transcreve-as em texto. Para ler como se se estivesse à escuta, já que é respeitada a maior parte da oralidade em que os diálogos aconteceram. Porque, como diz, “a conversa, aqui, na rádio, na vida, é inesgotável. E há sempre uma resposta para todas as questões.” M.A. Contraponto, 253 págs., €17,70
3. Diário – Volume II (1959-1969), de Witold Gombrowicz
A Antígona completa a publicação do Diário de Witold Gombrowicz com a edição do segundo volume, que cobre os anos de 1959 até à sua morte, em 1969. No primeiro tomo, o escritor polaco fora apanhado na Argentina pelo deflagrar da II Guerra Mundial. Aí decidiu ficar, em empregos afastados da sua vocação literária, mas estes últimos anos revelam a sua consagração, tanto no hemisfério sul como no norte, que tem o seu auge no regresso à Europa: Berlim, Paris, Vence… O seu olhar heterodoxo e a sua escrita, afastada de qualquer convenção ou cânone, refletem agora não só sobre a distância e a estranheza exterior mas também sobre a sua própria vida (e intimidade). Nestas páginas encontramos um outro retrato do século XX, testemunhado e protagonizado por um dos seus escritores mais ilustres e, felizmente, bem traduzido em Portugal (no teatro e na prosa). L.R.D. Antígona, 456 págs., €20
4. Nick Cave ‒ Mercy on Me, de Reinhard Kleist
Na crescente oferta de novelas gráficas e BD de todos os géneros, da ficção ao ensaio, está esta biografia de um dos maiores músicos das últimas décadas: Nick Cave. Assina-a Reinhard Kleist, designer e ilustrador alemão que se tem especializado na adaptação aos quadradinhos de grandes vidas. Como em Elvis Presley e Johnny Cash, a ideia de biografia é desconstruída por uma opção narrativa original. Neste caso, a vida de Cave é dada a conhecer através dos momentos fundadores da personalidade e da expressão do génio, como a infância na Austrália, as primeiras incursões musicais com os The Birthday Party, as várias modelações do punk e do rock mais pesado e a mudança para a Europa. Mas essa vida também é cruzada pelas muitas personagens das canções de Nick Cave, tão negras e luminosas quanto estes desenhos a preto e branco, com doses iguais de expressividade e mistério. L.R.D. Minotauro, 236 págs., €21,90