Comecemos por explicar a data que dá nome a esta Casa Villae: 1255 remete para o ano em que foram encontrados os primeiros registos da Taboadella, a quinta com 41 hectares, em Silvã de Cima, adquirida em 1998 pela família Amorim – e administrada por Luísa Amorim, a mais nova das três irmãs herdeiras – que, depois do Douro e do Alentejo, alargou o negócio do vinho ao Dão. A história deste lugar rodeado por floresta (também conhecida como silvã, dando nome à aldeia no concelho de Sátão) é muito antiga. Já no século I se vinificava o vinho, e a prova disso mesmo está num antigo lagar romano que se encontra sobre um penedo.
Antes de fazermos o check-in, atravessamos de carro as vinhas (umas replantadas ainda a despontar, outras com quase meio século, dizem-nos), avistamos a belíssima adega da Taboadella (ver caixa) e, mais ao longe, o sopé da serra da Estrela. Quando pomos os pés no chão, apenas os pássaros se fazem ouvir. Já no interior da casa, as boas-vindas são dadas com um copo de Villae 2021 branco, servido debaixo de uma ramada. Não será o único que beberemos. Aliás, como se verá daqui para a frente, o vinho e as vinhas estarão sempre presentes.
Convertida recentemente em alojamento, esta antiga casa senhorial em pedra quer funcionar “como uma casa de família”, só podendo ser alugada por inteiro para que melhor se vivencie o Dão. Com rés do chão e dois pisos, a Casa Villae 1255 tem oito quartos, todos com casa de banho privativa, e um dos quais com seis camaratas, pensado para crianças (contas feitas, a casa tem capacidade para 19 pessoas), várias salas de estar, uma grande cozinha equipada, onde é deixado um cesto com mercearia de boas-vindas, e uma cave de vinhos. A pedido, servem um brunch ou um menu de degustação (€30 por pessoa), na longa mesa da sala decorada com um painel têxtil assinado pela João Bruno Design.
Ioga na relva
A decoração de interiores foi pensada ao pormenor por Ana Vale, por forma a contar a história do lugar. Os bancos, as cadeiras e os fundos de cama são feitos das típicas mantas de papa e produzidos em Maçaínhas, na serra da Estrela; há peças em burel, cerâmicas de Maria do Amparo (de Mangualde), antigos louceiros de madeira e leiteiras em zinco. Como em todas as casas de família, também há livros (muitos) para ler à sombra do medronheiro na ramada, jogos de tabuleiro para descontrair e ainda, em qualquer móvel de sala, chá e bolachinhas caseiras à disposição.
Pela manhã, abrimos as portadas da janela do quarto para deixar o sol entrar. As vinhas – a maior mancha da região do Dão – estão mesmo ali à mão de semear. O pequeno-almoço, incluído no aluguer da casa, é uma viagem pelas Beiras: pão regional e broa de milho, queijos da serra da Estrela, compotas da Guarda, bolo negro de Loriga que compete com o bolo caseiro de iogurte feito pela dona Olga. Não saboreámos tudo, confessamos, porque nos aguardava uma aula de ioga com vista para os vinhedos, uma das muitas experiências disponíveis a pedido. Sentados nos colchões dispostos na relva, pedem-nos para fecharmos os olhos e sentirmos a nossa respiração. Inspirar, expirar… Neste cenário, não é difícil concentrar-nos.
Rodeada por pinheiros-mansos, sobreiros, carvalhos e cedros, a quinta pode (e merece) ser percorrida a pé, mas também é possível fazê-lo à boleia da carrinha vermelha Bedford de 1964 ou alugando uma bicicleta. O vinho, já aqui o escrevemos, está por todo o lado, e quem quiser poderá conhecer mais sobre os seus perfis em provas acompanhadas por tábuas de queijos e enchidos. Na Taboadella tudo pede para ser apreciado com tempo, tal como nas visitas a uma casa de família.

Quinta da Taboadella > Silvã de Cima, Sátão > T. 232 244 000 / 96 711 6877 > €3 000/casa para 19 pessoas (duas noites)
Vinha tradicional, adega moderna

O arquiteto Carlos Castanheira desenhou uma adega feita em madeira e cortiça que fala para a Natureza
Grande, de desenho complexo, moderna e funcional, a adega da Taboadella tem muita madeira e muita, muita cortiça, como não poderia deixar de ser, que reveste a parede exterior do edifício. O projeto é do arquiteto Carlos Castanheira, que fez destes os materiais de eleição, apostando na sustentabilidade e na ligação à Natureza. Rodeada por 41 hectares de vinha, parte da qual se avista da varanda da adega, destaca-se por ter um passadiço sobre a sala das barricas, o Barrel Top Walk (idêntico ao Tree Top Walk, também da autoria de Carlos Castanheira em conjunto com Siza Vieira, no Parque de Serralves, no Porto), construído com madeiras recicladas, oriundas de florestas das Beiras – porque, diz o enólogo residente Rodrigo Costa, “tudo aqui tem que ver com a sustentabilidade e as castas autóctones” da Região Demarcada do Dão, sobretudo o Alfrocheiro, o Encruzado, a Jaen e a Touriga-Nacional, as mais antigas plantadas há 50 anos, que dão corpo aos vinhos com a marca Taboadella.
Durante a visita à adega (pode ser guiada pelo enólogo), aprende-se tudo sobre os microterroirs desta região de solos graníticos, onde a vinha tradicional não é regada, conhece-se o processo de vinificação por gravidade, percorrem-se a Nave das Cubas (25 no total, para tintos e brancos) e o tal passadiço sobre a sala das barricas. Já as provas de vinho decorrem habitualmente na Wine House, ficando a sala da adega reservada para grupos. Um brinde ao Dão!
Adega da Taboadella > Visitas ter-sáb 11h, 15h, 17h30 (até outubro) > visita e prova de vinhos a partir €24 (mínimo 2 pessoas)