1. Contemporânea
Nos últimos anos, Málaga reinventou-se. O facto de Pablo Picasso ter ali passado a infância deu um impulso a este “piscar de olho” à cultura. Um século e meio depois do nascimento do pintor, a cidade tem muito mais para dar. Em 2003, com a abertura do Museu Picasso, Málaga começa a estreitar laços com o turismo cultural. As ruas do centro tornam-se pedonais, velhos edifícios são restaurados e, pouco a pouco, a cidade torna-se a “meca das artes”. O velho bairro do porto, antes mal frequentado, transformou-se na área mais alternativa. Chamam-lhe Soho, e a imagem de marca são os grafitis enormes nas paredes de edifícios de artistas internacionais, como Obey que tão oportunamente apela à paz. No bairro está situado o Centro de Arte Contemporânea de Málaga, há galerias, gastrobares e lojas de banda desenhada.
2. Centro Georges Pompidou
Outra referência de modernidade é o Centro Georges Pompidou de Málaga, no parque subterrâneo do porto. Os locais chamam-lhe carinhosamente “o cubo”. De autoria do artista conceptual Daniel Buren, este cubo de cristal colorido tornou-se um ícone da cidade e é o primeiro museu em que os passageiros dos cruzeiros esbarram quando ancoram em Málaga. Começou por ser um centro provisório, mas estender-se-á à cidade pelo menos até 2025. Já até outubro de 2023 pode ver-se a mostra Um Tempo Próprio, uma viagem em que a pandemia serve de reflexão sobre os vários tempos – do aritmético ao tempo subjetivo de cada um de nós. No percurso expositivo, destaque para a escultura de Picasso de 1950, Menina a Saltar à Corda, feita com materiais reciclados, e para a pintura de Henri Matisse, Mulher Lendo sobre Fundo Negro.
3. Paula Rego, “a desejada”
O Museu Picasso há muito que desejava fazer uma retrospetiva de Paula Rego (1935-2022) e mostrar “a vontade subversiva desta mulher num mundo dominado por homens”. Era essa a intenção de José Lebrero, diretor artístico da instituição, mas só a pandemia impediu que a exposição se realizasse mais cedo. São mais de 80 obras – dos últimos 60 anos – entre colagens, pinturas, pastéis e gravuras. A mostra, até 21 de agosto, integra o programa Woman Raising The Curtain, que tem destacado artistas mulheres do século XX. Elena Crippa, a comissária da exposição, lembra que “todo o trabalho da artista começa através de uma história, mas que não é essencial conhecê-la a fundo para se apreciar a sua obra. Esta vale por si e é uma viagem.”
4. Casa da partida
O Museo Casa Natal de Picasso apresenta o quotidiano do artista em criança. Na casa onde nasceu, na Plaza de la Merced, descobrem-se os objetos pessoais do pintor, desenhos, retratos de família, o fato de batismo e os soldadinhos de chu mbo com os quais brincou. Nas paredes contam-se curiosidades sobre o pintor, entre elas o facto de ter recusado a nacionalidade francesa. “Malaguenho, andaluz e espanhol, nunca esqueceu as suas origens, orgulhoso dos touros e do flamenco.” O edifício alberga ainda um Centro de Estudos sobre Picasso.
5. Museu Picasso
Situado no Palácio Condes Buenavista, o Museu Picasso acolhe cerca de oito décadas de trabalho do pintor. O artista deixou indicações específicas para que o museu se erguesse nesta casa renascentista numa rua antiga. O acervo é composto por uma seleção de peças vindas da coleção da nora, Christine Ruiz-Picasso, e do neto, Bernard Ruiz-Picasso. Através de mais de 200 obras, é possível perceber como o seu traço transformou o mundo da arte: “Aos 13 anos, pintava como os mestres e aos 90 pintava como uma criança.” A coleção inclui os estilos e as técnicas que mostram a genialidade do pintor malaguenho.
6. Antiguidade
Três mil anos antes de ser a “meca das artes”, os fenícios estabeleceram-se na cidade. Em vários pontos da urbe há sinais desta civilização. A secção arqueológica do Museu de Málaga é um ínfimo exemplo disso. Gregos, cartagineses, romanos e muçulmanos chegaram aí por via marítima, o que a torna uma cidade profusa em culturas. Na caminhada entre a praça da Alfândega e a Alcazaba – construída entre o século VIII e XI –, dá-se o tal encontro de culturas. De um lado, encontra-se o Teatro Romano, depois, subindo a ladeira, entra-se na Alcazaba, cujo nome em árabe significa “cidadela”. A entrada faz-se pela Torre del Cristo, onde foi celebrada a primeira missa depois da Reconquista. Uma vez lá dentro, a arquitetura muçulmana impõe-se. A frescura dos pátios resulta do jogo entre luz e sombra e faz esquecer que se está numa fortaleza. A água é o outro elemento presente. Dizem que os arquitetos no século XI já teriam em conta o sexo feminino. Através das gelosias de filigrana, as mulheres podiam ver sem serem vistas. Os malaguenhos defendem que foi a sua cidadela que serviu de modelo a Alhambra, em Granada.
7. Mercado Atarazanas
Antigo estaleiro muçulmano, no mercado vendem-se produtos da terra e do mar da província de Málaga – dos legumes ao peixe e ao marisco mais frescos. Petiscar ali também é uma possibilidade, e os olhos também comem: de um lado, um vitral que conta alguns episódios da cidade; do outro, uma porta em forma de ferradura que testemunha a presença árabe.
8. La Manquita
Os locais chamam à catedral La Manquita (“maneta”, em português) por causa de a Torre Sul não estar acabada. Construída sobre a mesquita Aljama, a igreja é tida como uma das joias do Renascimento andaluz. Começa a ser erigida em 1528, com linhas góticas de autoria de Diego de Siloé. Deste estilo resta a porta lateral. Mas as paragens por falta de capital resultam numa bizarra profusão de estilos, a que se junta o barroco na fachada e no interior. Parece que o orçamento reservado para se terminar o edifício terá sido desviado para se suportar a guerra da independência dos EUA. A polémica subsiste até hoje, e uns defendem que La Manquita é já imagem de marca da cidade, enquanto outros malaguenhos, como Antonio Banderas, são da opinião de que a catedral deverá ser terminada.
9. Tapas & Copas
“Ir de tapas” é uma tentação. Com uma caña, um tinto de verano ou um moscatel de Málaga, as recriações da cozinha andaluza encontram-se em todas as casas, no típico El Pimpi ou no Lola, com vistas para o porto. A ensaladilla rusa disputa o lugar com o presunto e com as croquetas de embutidos. Há boas opções de peixe, nomeadamente no Gutiérrez Puerto ou Los Mellizos, onde reinam os mexilhões a vapor, mariscos e, claro, peixes da costa.
10. Teatro del Soho
“Que a Costa do Sol seja mais do que um aftersun”, disse o filho da terra, Antonio Banderas, ao El Mundo, quando pegou num velho teatro com o fim de ampliar a oferta cultural da cidade. Após o sucesso do musical Company, encenado e protagonizado pelo ator, o teatro continua a oferecer um programa variado que inclui música, dança e espetáculos infantis.
11. Turismo religioso
Em Málaga, a Semana Santa é levada tão a sério que até tem um museu. Aqui, religião confunde-se com fervor. Na semana que antecede a Páscoa, há ateus que carregam andores só para mostrarem a beleza da arte sacra existente nas igrejas, ainda que, com a implantação da República, em 1931, 80% da arte religiosa tenha sido destruída. No centro histórico há também vários templos com testemunhos mudéjares, como a igreja de Santiago, onde Picasso foi batizado, ou a igreja de Santo Agostinho, onde se pode admirar o que resta de um claustro mudéjar. Conta-se que Picasso, que era ateu, também rezava todas as noites para que Franco morresse. O pintor morre em 1973, o ditador em 1975. Haja fé.
12. Museu Carmen Thyssen
Inaugurado em 2011, vale a pena visitar este museu instalado na antiga fábrica de tabaco de Málaga. À beleza do edifício soma-se uma imersão na pintura romântica do século XIX, em que se destacam os bandoleiros, os touros e o passado muçulmano.
E ainda… Caminito del Rey
Cerca de 60 quilómetros separam Málaga do Caminito del Rey, mas a viagem vale a pena. Este prodígio geológico andaluz é um desfiladeiro, com uma profundidade de 180 metros e uma largura que pode ser apenas de dez metros, que o rio Guadalhorce abriu no calcário da montanha.
O caminito é um passadiço aéreo, pendurado a 100 metros acima do rio, construído na rocha do desfiladeiro de Los Gaitanes. Esta aventura só é possível porque, em 1901, Rafael Benjumea y Burín construiu aqui não só uma barragem hidroelétrica como também uma aldeia-modelo para os trabalhadores, da qual ainda restam pequenos vestígios. O passeio não é aconselhável a pessoas que sofram de vertigens. caminitodelrey.info