É muito provável, caro leitor, que já se tenha sentado por diversas vezes numa cadeira Adico numa qualquer esplanada deste País, ou mesmo no estrangeiro. E, quem sabe, desconheça tratar-se de uma peça de fabrico português feita em Avanca, Estarreja, numa serralharia nascida em 1920 pelas mãos de Adelino Dias Costa (foram as suas iniciais que deram nome à marca), um empreendedor da terra e apaixonado pela arte de moldar o metal. A Cadeira Portuguesa, essa tal onde o leitor já se terá sentado, foi criada mais tarde pelo artesão, em 1930, seguindo a escola alemã Bauhaus (linhas simples e retas), e incluía uma mesa para esplanada. Quando nasceu, nos anos 20 do século passado, a Adico começou por fabricar mobiliário hospitalar: camas, lavatórios, cofres… mas depressa a linha de cadeiras e mesas de exterior tomou conta do negócio nas décadas seguintes, nomeadamente, através das exportações para as ex-colónias. Atualmente, pode mesmo ser encontrada em esplanadas da Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, França, Holanda, México ou Suécia.
Apesar do sucesso, a marca centenária de mobiliário metálico mais antiga do País, e uma das mais reconhecidas na Europa, permanece no mesmo lugar de sempre: uma fábrica térrea à beira da estrada, gerida atualmente por cinco sócias, sobrinhas-netas do fundador, pertencentes à terceira geração da família. “A nossa preocupação para o futuro tem de estar suportada no nosso ADN, que é o mobiliário metálico, maioritariamente de exterior. A base é o tubo metálico, curvado, furado e rematado nas suas variações de assentos e encostos”, salienta Miguel Carvalho, primo das sócias e administrador da Adico. Um compromisso para mais 100 anos, assume o responsável pela empresa onde trabalham 65 pessoas, e cuja maior fatia de vendas (80%) reside na exportação, com França e Espanha como principais mercados. A ampliação da fábrica para um terreno próximo e a criação de um museu são alguns dos planos para o futuro. “A Adico tem uma história. Costumo dizer que temos tempo. Se alguém a preparou para comemorarmos o centenário, temos de tomar decisões sustentáveis para conseguir chegar aos 200 anos.”
O metal está na moda
Por opção, a Adico nunca teve loja própria. Em abril passado, abriu o seu primeiro showroom no piso inferior da CódigoDesign, no Porto, a partir de um convite dos proprietários, Manuela Pinto e Nelson Silva Sousa, que há muito recorrem ao mobiliário da marca nos seus projetos de arquitetura de design de interiores. “As pessoas só conhecem as cadeiras. Achámos que seria interessante mostrar ao público, e aos gabinetes de design e de arquitetura, todos os outros modelos da marca”, explicam. Entre o portefólio da Adico, e apesar de a Cadeira Portuguesa ir “prolongando a sua longevidade no tempo”, têm surgido novas (e bonitas) peças criadas pelo gabinete de design próprio da marca. “Todos os anos desenhamos novos produtos a partir dos clássicos. Há seis, sete anos, fomos buscar as peças antigas da empresa e demos-lhe uma lavagem de cara, aproveitando a moda do vintage”, conta Miguel Carvalho. Exemplos dessa linha de clássicos – quase todos com “um intenso trabalho de serralharia manual” – são o sofá-peixe (inspirado nos sofás das salas de espera dos consultórios); os bancos de um ou dois lugares, criados a partir da Cadeira Portuguesa; e as vitrinas (iguais às que serviam para guardar os medicamentos nos gabinetes médicos) que podem ser personalizadas com 50 cores diferentes.
Até ao final deste ano deverá estar pronta uma nova linha de interior com 20 peças (14 cadeiras e seis mesas) para responder, diz o administrador da Adico, a uma tendência que a empresa tem registado no mercado internacional: “A compra de metal para dentro de casa está na moda.” É que a Cadeira Portuguesa (e tudo o que dela deriva) já não se limita às esplanadas de cafés ou de restaurantes e é cada vez mais procurada para decorar o interior das habitações, podendo ser pintada numa multiplicidade de cores – a empresa tem uma paleta de cerca de 50 tons disponíveis, desde o rosa-choque aos amarelos, verdes, azuis, vermelhos ou tons neutros. A prova de que a peça de mobiliário, um caso de estudo do design nacional, tem sabido envelhecer.
Adico > R. Comendador Adelino Dias Costa, 74, Avanca, Estarreja > Showroom > CódigoDesign, R. Serpa Pinto, 168, Porto > T. 22 831 5102 > seg-sex 14h30-19h