Podíamos dizer que a história d’A Vida Portuguesa está naquele móvel verde, que se enche de mil objetos e produtos que Catarina Portas foi juntando ao longo de anos. Cremes milagrosos, jogos, cartões de bordar (esses mesmo, que inspiraram o cartão coração, da recente coleção Sarah Affonso), um licor de nome atrevido… À entrada, já nos tínhamos perdido pela sua coleção de cartazes publicitários portugueses (são 60) que atravessam boa parte do século XX e que Catarina arranjou agora forma de reproduzir, com a Gamut, em impressões de alta qualidade.
Mas A Vida Portuguesa – celebra 15 anos em 2022 – não está sozinha a ocupar este enorme armazém da Rua Nova do Desterro, em Lisboa, que foi a garagem da cervejaria Ramiro e, nos últimos cinco anos, funcionou como escritório e armazém das lojas. Na Depozito, está também a Portugal Manual, de Filipa Belo, juntando, lado a lado, o artesanato português tradicional com o trabalho de uma nova geração de artesãos autodidatas. “Já queria ter uma loja de artesanato, que tem um problema enorme: não é barato, e as pessoas não o valorizam o suficiente para pagar o que vale”, aponta Catarina Portas. “Com o fecho da Santos e Ofícios, muitos artesãos ficaram sem revendedor em Lisboa”, continua. Quando, há três meses, Catarina e Filipa falaram pela primeira vez sobre o que queriam fazer, perceberam que estavam em sintonia.
O artesanato tem um problema enorme: não é barato, e as pessoas não o valorizam o suficiente para pagarem o que vale
Catarina Portas
Do lado direito, nos móveis que vieram das duas lojas encerradas na pandemia (na Rua Ivens, em Lisboa, e na Rua Cândido dos Reis, no Porto), viaja-se pelo País através de peças de olaria, marcenaria, cortiça, cestaria e têxtil. Catarina conhece bem quem as faz e diz de cor os seus nomes. Às camisas e ceroulas da Nazaré, à saia de quatro metros do Minho hão de juntar-se as camisolas poveiras e os capotes alentejanos.
Do lado esquerdo, estão 45 marcas da Portugal Manual, que vão desde a cerâmica utilitária à joalharia, decoração e vestuário, a mostrar novas abordagens à tradição, de que são bom exemplo as tapeçarias contemporâneas de Susana Cereja. O objetivo da Depozito é também promover a troca de experiências entre gerações, seja através de workshops e conversas, seja na forma de uma biblioteca especializada, organizada por Catarina Portas, e que em breve estará disponível para consulta.
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Depozito > R. Nova do Desterro, 21, Lisboa > qua-dom 10h-19h
