Entramos no número 15A da Avenida da República impelidos pela data redonda. Afinal, são os 100 anos da Versailles que se assinalam por estes dias. Se, à primeira vista, tudo parece estar igual, os habitués da casa de chá sonhada por Salvador Antunes, um apaixonado pela pastelaria francesa e pelo estilo de Luís XIV, notarão pequenas diferenças.
Dizemos pequenas ou mesmo subtis e Bruno Costa, gerente da pastelaria inaugurada a 25 de novembro de 1922, tende a concordar. “Numa casa como a Versailles, não podemos mudar nada ou quase nada, no entanto melhorámos alguns pormenores.”
Os pormenores de que Bruno Costa fala estão, por exemplo, nas mesas, agora cobertas de toalhas de pano bege, em vez de bordeaux. Também as loiças e o faqueiro da Vista Alegre a estrear saltam à vista, pelas suas linhas simples e elegantes.
Já a nova iluminação teve o intuito de valorizar o espaço, explica Bruno Costa, realçando o trabalho em talha de Fausto Fernandes e as pinturas de Benvindo Ceia, que retratam os lagos de Versailles. Na decoração, destacam-se ainda os vitrais, espelhos, os tetos embelezados com estuque e os marmoreados que valeram à Versailles a classificação de Loja com História.
As duas montras estão dedicadas aos parceiros mais antigos da pastelaria, através de peças de arte em movimento. A Quinta da Pacheca produziu um vinho do Porto Tawny 10 anos, aqui à prova; o Grupo Nabeiro, através da marca Camelo, criou uma receita única de café, misturada pelo próprio comendador Rui Nabeiro, que estará à venda na Versailles. E da Adega Mayor veio um lote de 1922 garrafas, todas numeradas, do vinho Centenário Reserva.
Croquetes, duchesse e papillons
A hora de almoço está movimentada e escolhemos a sala superior, três degraus acima do piso térreo, para nos sentar. Não resistimos a pedir dois clássicos da ementa. Os croquetes de vitela, ficamos a saber, são finalizados na hora. “Temos uma senhora que os molda e frita no momento”, conta Bruno Costa. São servidos à unidade ou como prato principal, à razão de quatro com salada de alface e tomate. Já o bife do lombo à Versailles, tenro e suculento, acompanha com batata frita e esparregado.
Não menos importantes nesta história são os funcionários, que primam pela simpatia e estão impecavelmente vestidos com novas fardas – calça preta, camisa branca, colete preto com o símbolo da pastelaria e laço da mesma cor.
José Gomes Batista, 65 anos, o funcionário mais antigo da Versailles, circula em passo apressado pela sala. Ora anota os pedidos, ora serve os clientes, ora limpa as mesas, não parando dois segundos. Nem mesmo quando lhe tentamos roubar uns minutinhos de conversa. “Deixe-me só tirar três cafés para aquela mesa, por favor”, diz-nos na primeira tentativa. “Eu venho já ter com os senhores”, promete na segunda abordagem.
“A Versailles continua a ser uma casa de encontros e reencontros. Temos grupos de pessoas que já não se veem há muito tempo e avós que agora vem acompanhados pelos netos. É bonito ver esta passagem de testemunho”, observa Bruno Costa.
De sorriso generoso, e antes de se aproximar, José Batista tem a delicadeza de cumprimentar os clientes com quem se vai cruzando. “Estou aqui há quase 30 anos, posso dizer que ao fim deste tempo fiz muitos amigos e bons conhecidos. Há quem me trate como se fosse um membro da família”, afirma, enquanto vai desfiando memórias de outros tempos, como quando acabavam o serviço de almoço e já havia filas para o lanche.
Entre os bolos mais procurados, dizem-nos, está o duchesse com fios de ovos, que saboreamos com o café. Mas com o Natal à porta, é o bolo-rei que volta a estar no topo das preferências.
Pastelaria Versailles > Av. da República, 15 A, Lisboa > T. 21 354 6340 > seg-dom 7h15-21h