Ainda guardamos na memória a fama dos vinhos dos Açores, mas deixámos de ter conhecimento do que se produz no arquipélago. Parece haver uma estranha dessintonia entre o setor vitivinícola regional e o mercado do vinho nacional: regista-se, nos últimos anos, um crescimento assinalável da produção de vinho nos Açores, tanto em quantidade como em qualidade, e, ao mesmo tempo, a falta dele, quase gritante, nos locais de venda e nos hábitos de consumo. A Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico é exemplo do crescimento e da modernização do setor, apresentando vinhos – em regra apelativos e sempre singulares, devido às condições específicas em que são criados – merecedores de muito mais atenção. É o caso deste Terras de Lava Branco 2019 que requer lugar à mesa, neste verão.
Região quase mítica para a produção de grandes vinhos é a Vidigueira, no Alentejo, onde ainda vigoram práticas do tempo dos romanos. A família Lança estabeleceu-se aí, na Herdade Grande, há 100 anos, contando já cinco gerações. Para evocar o percurso da família e o da própria herdade, foi lançada a série Gerações, por ocasião do centenário. Vale a pena provar este Herdade Grande Gerações Branco 2018, feito de um lote de Verdelho e de Alvarinho, que o enólogo Diogo Lopes, seu criador, descreve nestes termos: “O Verdelho fermentado em inox proporciona a fruta e a frescura muito particulares; e o Alvarinho fermentado em barrica dá-lhe corpo, volume e untuosidade.”
O terceiro branco vem do Douro e é também um vinho de família, a de Manuel Ângelo Barros, neto do fundador da Quinta Dona Matilde e administrador, durante largos anos, do grupo Barros (um dos mais importantes do vinho do Porto no século passado). Este grupo familiar foi vendido, já neste século. Mas, depois, Manuel Barros conseguiu recuperar a Quinta Dona Matilde, junto da estrada da Régua ao Pinhão, e produz vinhos surpreendentes, como este branco com equilíbrio e frescura insuspeitados.
Terras de Lava IG Açores Branco 2019
Resulta de um lote de castas autóctones dos Açores (70%) e europeias (30%), com fermentação e estágio sobre as borras finas em inox até ao engarrafamento, passados quatro meses. Tem cor amarelo-esverdeada, aroma limpo, jovem e frutado, com boas notas cítricas e tropicais, paladar volumoso com salinidade e frescura aliciantes. Bom aperitivo e melhor na mesa a acompanhar mariscos e pratos de peixe. €10,99
Herdade Grande Gerações Branco 2018
Feito com uvas de duas castas: Verdelho (70%), que fermentou e estagiou em cubas de inox, sobre borras finas, com bâtonnage, durante seis meses, e Alvarinho (30%), que fermentou e estagiou sobre borras totais em barricas de carvalho francês, durante oito meses. Cor citrina, esverdeada, aroma forte com realce para as notas cítricas e tropicais, paladar intenso, boa acidez e muito equilíbrio. Faz jus à história da região e da família. €9,95
Dona Matilde Douro Branco 2019
Elaborado com uvas das castas Arinto, Viosinho, Rabigato e Gouveio, com prensagem suave, fermentação e estágio de seis meses em cuba. Apresenta cor citrina com reflexos esverdeados, aroma complexo, jovem, floral e frutado, com dominante nas notas cítricas, paladar elegante com volume, equilíbrio, untuosidade e frescura apreciáveis, final persistente. Claramente gastronómico. €9