Vamos à Serra d’El-Rei, sede de freguesia do concelho de Peniche, a meio caminho entre esta cidade, conhecida pela pesca, pelas praias e pelas ondas, e Óbidos, vila medieval intacta com o casario aninhado no interior das muralhas. O que nos move, desta vez, não são as belezas naturais da região, nem o seu rico património histórico, mas sim um restaurante: Tribeca (por causa do São Valentim, Dia dos Namorados, que trouxe à ideia os amores de Pedro e Inês na Serra d’El-Rei). Abriu há dez anos, num espaço amplo e muito comprido com três áreas interligadas: pátio, sala e bar. A madeira, o latão, os espelhos, os quadros, a luz suave e a música de fundo compõem um cenário alegre, descontraído e, ao mesmo tempo, intimista e propício, juntamente com a boa comida, ao convívio e ao prazer da mesa.
A gastronomia tende a aproximar-se cada vez mais da cozinha tradicional portuguesa, com predomínio dos peixes e mariscos, mas não abdica de outras influências, sobretudo mediterrânicas, nem de técnicas que permitem aperfeiçoar os sabores (os caldos e os molhos evidenciam-no). Tem uma ementa diversificada, com pratos fixos e outros de época, que mudam duas vezes por ano, no verão e no inverno, sob a designação Sugestões do Dia. Desse conjunto, destacam-se, nas entradas, os peixinhos da horta, perfeitos na fritura e no polme, com um molho delicado a acompanhar; a bisque de navalheira em crosta folhada; a trouxa de queijo de cabra e pera-rocha, que leva mel, vinho do Porto branco e especiarias; e outras opções sugestivas, que vão das ostras ao foie gras e à portuguesíssima sopa de peixe com hortelã, feita como se fosse caldeirada – quente, gostosa, divinal.
Nos peixes, estão alguns dos pratos mais emblemáticos: robalo em crosta de pão, que preserva a textura e o sabor da sua carne, a que junta três molhos potencialmente enriquecedores e acompanha com batatas à algarvia (temperadas com azeite, vinagre, sal, alho e coentros); linguado à la meunière, com um molho tão delicado como o seu acompanhamento de puré de batata trufado; peixe assado à portuguesa (robalo ou outro, conforme o mar), à maneira tradicional, mas sem tomate; e strudel de bacalhau com salada verde, guloso folhado com recheio de bacalhau, legumes e queijo mascarpone. Os pratos de marisco também chamam a atenção, por exemplo: lagosta de viveiro para cozer ou grelhar; lagostinha grelhada com molho de citrinos e arroz de jasmim e lima; arroz de marisco com lagosta, diferente do habitual por ser feito com um caldo que o enriquece; e risotto de lingueirão, feito à boa maneira italiana e que tanto pode acompanhar camarão panado como ser prato principal com lingueirão grelhado por cima, simples e delicioso. Excelentes carnes, em especial os bifes à Tribeca (com molho de natas, tipo “à Marrare”), à portuguesa e com pimenta verde, do lombo e da vazia; os secretos de porco preto de bolota com migas de grelos; e o galo em vinho tinto.
Muito boa doçaria, que é feita na casa, como a tarte tatin, o coulant de chocolate, a musse de chocolate (sabor forte, para apreciadores) e o leite-creme. Garrafeira selecionada com critério e bem focada na região. Serviço eficiente e simpático.
Tribeca – Restaurante Brasserie > Av. da Serrana, 5, Serra d’El-Rei, Peniche > T. 262 909 461 > seg 19h-22h30, ter-dom 12h30-14h30, 19h-22h30 > €35 (preço médio)