
No Antyquum, o chefe Vítor Matos ganhou uma Estrela Michelin (que já tinha conseguido na Casa da Calçada, em Amarante) e, mais importante, conquistou os apreciadores da boa mesa
Lucília Monteiro
Está magnificamente instalado no piso térreo de um palacete do século XIX – espaço que foi do Solar do Vinho do Porto –, paredes-meias com o Museu do Romântico, rodeado por jardins e voltado para a foz do Douro, onde os olhos se fixam na vã tentativa de descobrir se ainda é rio ou se já é mar. Tem uma sala muito acolhedora (e esplanada com horário mais alargado) com 46 lugares, mas, agora, só utiliza 25, durante a semana, e, 30, nos jantares de quinta e sexta-feira, para garantir a máxima qualidade (convém reservar mesa com razoável antecedência).
Quando abriu, há dois anos, tinha uma ementa colorida, com um certo pendor regionalista, mas o chefe Vítor Matos acabou por assumir plenamente as operações e fazer a cozinha que lhe dá prazer. Ganhou uma Estrela, como já tinha conseguido na Casa da Calçada, de Amarante, e, mais importante do que isso, conquistou a admiração de quem aprecia a boa mesa. O Antyquum é um dos melhores restaurantes do Porto e do País.
A cozinha baseia-se no produto, na harmonia e no sabor, em regra com muitos elementos no prato, o que a torna complexa, mas todos bem interligados, o que a faz equilibrada e colorida, além de ser sã. Servem de exemplo, nas entradas: “foie gras, enguia fumada, moscatel do Douro, balsâmico velho, pinhões, beterraba, salgueiro, flores”, uma composição superelegante e colorida com matizes e sabores inesperados, conjugando doçura, acidez, fumo, terra e flores; e “vieira, raviólis de camarão, espumante e estragão, trompetas da morte, caviar e capuchinhas”, que encanta a vista e o paladar com as vieiras a desfazerem-se na boca e o sabor intenso dos raviólis a prolongar o prazer; nos pratos principais: “robalo do mar, mexilhões, Alvarinho e flor de açafroa, xerém de amêijoas à Bulhão Pato, Algas”, num conjunto rico em sabor, com o xerém a servir de base ao peixe cozinhado ao vapor com algas; “salmonete, ouriços-do-mar, codium, carabineiro, couve-flor e curgete”, autêntica explosão de cheiro e sabor a mar com a suavidade cremosa do ouriço, a sugestão a perceves da alga codium e o iodado típico do salmonete a sobressaírem; “borrego, pão de ervas, nabos, raiz de cerefólio, mostarda de estragão, cantarelos, tubérculos”, lombo e costeleta com sabor intenso e deliciosamente rústico; “pato, vinho do Porto, bergamota, alfazema, batata-doce, shimaji, aipo, alho fermentado”, incursão na cozinha clássica francesa (que Vítor Matos bem conhece desde a sua formação na Suíça), doce, subtil, de textura muito delicada; e outros que não cabem aqui, todos com produtos de excelência, grande criatividade e superior técnica culinária. Doçaria de alto nível. Excelente garrafeira com cerca de 350 referências. Serviço à altura.

A esplanada do Antyquum, voltada à foz do Douro, funciona com horário alargado
Lucília Monteiro
Antyquum > R. de Entre-Quintas, 220, Porto > T. 22 600 0445 e 91 202 4754 > ter-qui 12h30-15h, 19h30-22h30, sex-sáb até às 23h, dom 12h30-15h > €70 (menus de degustação €95 e €120)