Paços de Ferreira, 1920. A fábrica de laticínios da Quinta do Paço engarrafava o leite, que era depois distribuído pelas vendedoras de rua do Porto, e resumia a sua produção à manteiga. Mais tarde, com o aparecimento das cooperativas dos produtores de leite, foi necessário inovar. Inspirado por uma viagem à Suíça, o dono da fábrica começou a fazer éclairs recheados com chantilly. Quase cem anos depois, a receita da Leitaria da Quinta do Paço mantém-se, tanto nas lojas do Porto e Matosinhos, como na que abriu, na sexta, 16, em Lisboa.
É numa antiga padaria da Avenida João XXI – onde nos anos 1990 acabavam as saídas noturnas que incluíam ida aos bolos quentes – que agora se podem provar os éclairs mais famosos do Porto, feitos de massa choux (farinha, leite, manteiga e ovos) que, depois de ir ao forno, se torna leve e oca por dentro. “É muito neutra, nem muito doce, nem muito salgada”, explica Alexandra Sotto Maior, responsável pelo marketing.
Estes éclairs são recheados com o chantilly da casa, leve e doce q.b., que (para bem das nossas almas) é vendido em shot com um café (€1) ou a peso (€14/kg), em embalagens de 250 gramas, que resistem cinco dias no frigorífico. Só mudam as coberturas: o clássico Doce do Porto (com chocolate de leite), frutos vermelhos, limão, caramelo artesanal, chocolate preto, maracujá, crocante (chocolate e avelã), e o Black and White, o único sem chantilly, recheado com mousse de chocolate e coberto com chocolate branco (€1,20 ou €0,90/mini).
Só há quatro anos, quando Joana e Eduardo Costa compraram a empresa, houve mais inovação. Começaram a vender produtos feitos por pequenos produtores, como requeijão de Mafra, queijos curados do Minho (orégãos e cebola; pimentão e alho; piripiri), manteigas aromatizadas (orégãos e alho; tomate e manjericão; malagueta e alho), chocolates, bombons, compotas, marmelada, geleia, mel e azeite. A partir de outubro, haverá também iogurtes, e inventaram, para quem não pode comer glúten, uns frasquinhos com os recheios dos éclairs, só que sem massa (€2,80). As bolas de Berlim, em vez de serem fritas, são feitas no forno e recheadas também com chantilly (€1,20 ou €0,60/mini).
Mas a história da Leitaria da Quinta do Paço também se faz de iguarias salgadas: o snéclair (uma espécie de tapa) é servido em trio de degustação com um copo de vinho (€4,20). Para os dias descontraídos de fim de semana, há quatro menus de pequenos-almoços (€3,90 a €5,60), com torradas barradas com a manteiga da casa, como fazem questão de dizer, e um brunch (€5,90) com pão de sésamo e de mistura, ovo, bacon, tomate, rúcula, sumo de laranja e café. Para saborear no interior ou na esplanada, enquanto o tempo o permitir.
O nome do chefe de cozinha da realeza Antonin Carême (1784-1833) surge sempre associado à criação do éclair. O elegante bolo francês poderá ter sido inventado em 1540 por Popelini, cozinheiro de Catarina de Médici, mas só no século XIX a sua receita foi desenvolvida por Carême, já em Londres, na corte do Príncipe Regente, George IV.
Leitaria da Quinta do Paço > Av. João XXI, 53C, Lisboa > T. 21 848 0055 > seg-dom 8h-20h