Caminhamos ao longo das filas de barricas onde estagia o moscatel da Casa Ermelinda de Freitas, em Fernando Pó, Palmela. A acompanhar-nos está Leonor Freitas, à frente dos destinos desta casa há 17 anos, e o enólogo Jaime Quendera. Hoje a Casa Ermelinda Freitas produz tintos, brancos, espumantes, rosés e o famoso moscatel de Setúbal. Mas não foi sempre assim. Leonor integra a 4.ª geração da família Freitas, e não estava prevista a sua participação no mundo rural e dos vinhos. Filha única, os pais queriam para Leonor uma vida diferente.
Cedo partiu do País, para “estudar fora”, licenciando-se em Serviço Social. Mas depois da morte do pai Leonor assume a Casa Ermelinda de Freitas. A razão foi simples: “Não conseguia vender algo que tinha custado tanto à minha família a construir.” Nessa altura, em 1995, ainda não se ouvia falar da Casa Ermelinda de Freitas, embora as primeiras escrituras datem de 1920. “Os vinhos não tinham nomes, não havia marcas, toda a produção era vendida a granel. Era assim na região, foi assim nesta família”, conta-nos. Existia apenas uma adega tradicional e 60 hectares de vinha, com duas castas: Castelão, para os vinhos tintos, e Fernão Pires, para os brancos. Uma viagem com o marido a uma feira de vinhos em Bordéus, num velhinho Renault Clio, fá-la tomar consciência do património valioso que possuía: “Nessa feira estava presente uma produtora que tinha apenas 6 hectares de vinha… Eu tinha 60 e estava a desperdiçá-los.” Por essa altura Leonor aposta na aquisição de mais terras, planta novas vinhas e outras castas, constrói uma nova adega. Em 1997 “nascem” as primeiras garrafas do Terras do Pó, em muito pouca quantidade e com uma imagem que nem sequer é a que encontramos hoje. E foi necessário de esperar mais dois anos, até 1999, para que a produção ganhasse expressão.
Leonor Freitas sabia que o sucesso do seu negócio passava pela comercialização do vinho com um nome, mas nunca pensou que fosse tão rápido. “No início, a minha ideia era fazer uma marca de grande prestígio e continuar com a venda a granel. Em 2002 há uma produção excedente na região e quem me a costumava comprar, não o faz. Fico eu com o vinho e fui obrigada a tomar uma decisão…” Aquilo que, à partida, “era uma desgraça”, acabou por se tornar numa oportunidade.
Três anos depois, toda a produção era vendida com marcas próprias. É então que surgem os Dona Ermelinda, Quinta da Mimosa, os varietais e o moscatel. A primeira colheita foi em 2000 e deu um moscatel superior. Depois veio o reconhecimento os prémios em concursos internacionais sucederam-se ano após ano. Em 2008, a medalha de ouro atribuída ao Casa Ermelinda de Freitas Syrah 2005 no concurso parisiense Vinalies Internationales, deu ainda mais visibilidade aos seus vinhos.
A COLHEITA DE 2003
Em Fernando Pó, à nossa espera temos o Moscatel Superior 2003 que será posto à venda em outubro próximo. Jaime Quendera, enólogo da Casa Ermelinda de Freitas desde 2008, ajuda-nos a compreender este generoso de cor âmbar, que conjuga a doçura da uva com a frescura (ou acidez natural) conferida pelo terroir da região terras de areia pobre e a proximidade do mar. “É isso que faz dele uma bebida elegante, é este o seu segredo.” Ao bebê-lo, sentimos mel e casca de laranja, a que se juntam as especiarias (caril) e os frutos secos (avelâs).
O moscatel de Setúbal é feito unicamente com a casta moscatel de Alexandria ou de bago graúdo ao contrário do moscatel do Douro, feito a partir das uvas do moscatel Galego ou de bago miúdo. Por aqui, as uvas moscatel são colhidas no final de setembro, outubro…, para que tenham muito açúcar. São depois esmagadas e ficam a fermentar até que alcancem o baumé pretendido (o baumé é escala que mede a densidade de açúcar de um mosto). O processo da fermentação é interrompido com a adição de aguardente vínica. É deixado em maceração até março para extrair mais aroma e frescura à uva.
“Para chegar ‘à tal elegância’ não basta fazer o vinho, temos que o estagiar”, explica Jaime. Daí o vinho ser colocado em barricas de carvalho, francês ou americano, aí ficando no mínimo 4 anos, até um máximo de 10 anos, dependendo da categoria, em envelhecimento. “As barricas são provenientes do vinho tinto com 4 anos e é isso que, em conjunto com o processo de oxidação, lhe confere a cor âmbar. Se assim não fosse teríamos um vinho branco”, remata.
“E o moscatel roxo?” Trata-se de outra variedade única na região que, à vista, difere apenas na cor e que, embora tenha sido vetada ao esquecimento, começa a ser replantada.
“Dá uma bebida com muito maior concentração, elegância e personalidade.” Trocado por miúdos, “o roxo” não traz a casca de laranja, mas potencia o sabor dos frutos secos e das especiarias. Um moscatel roxo novo tem uma “personalidade muito mais madura” do que um de Setúbal novo. Em 2013, a Casa Ermelinda de Freitas lança o primeiro moscatel roxo. Até lá, brindemos com o que existe!
O PRÉMIADO FAVAIOS
A Adega Cooperativa de Favaios (ACF) foi novamente premiada no concurso Muscats du Monde, um dos mais prestigiados do setor dos vinhos moscatel, cujos resultados foram revelados na última segunda-feira, 9. Além do Moscatel Douro 1980 ter sido o único vinho português a incluir a lista dos TOP 10 dos melhores moscatéis do mundo, também o Moscatel do Douro DOC 10 anos voltou a receber uma medalha de ouro. Minutos depois de ter conhecido os resultados, o enólogo Miguel Ferreira, responsável pela produção de vinho da adega, estava feliz com os galardões. “É agradável sentirmo-nos reconhecidos por um júri de um concurso que prestigia os moscatéis, onde temos participado nos últimos oito anos e temos tido sempre medalhas”, confessava à VISÃO7.
E quem se desloca a Favaios passa incontornavelmente pela Adega Cooperativa de Favaios, onde, no ano passado, chegaram “cerca de 4 800 toneladas de uvas Moscatel” o que representou “a segunda maior vindima dos últimos 10 anos”, revela o enólogo. Este ano, no entanto, espera-se “um pouco menos em termos de quantidade”. Dentro do setor do moscatel, um dos ex-líbris da adega, continua a ser o Favaíto (enchem-se diariamente 130 a 140 mil garrafas miniatura). Esta notoriedade alcançada pelo moscatel de Favaios poderá ser mais um dos motivos para ir à aldeia vinhateira, que vive à volta do seu vinho licoroso e do pão tradicionalmente cozido em forno a lenha, conhecido como trigo de quatro cantos. A juntar à abertura do Núcleo Museológico Favaios, Pão e Vinho segundo polo do Museu do Douro no próximo sábado, 14. Em dois pisos, conta a história do moscatel (proveniente de castas de moscatel galega) e do pão. Luís Azevedo, vereador da cultura da Câmara Municipal de Alijó, considera este espaço museológico “determinante para o turismo”.
ROTEIRO NACIONAL
No Norte
ADEGA COOPERATIVA DE FAVAIOS Lugar dos Pousados, Favaios Marcação Visitas: T. 259 949 166/ 96 789 7185 andregonzaga@adegadefavaios.com.pt www.adegadefavaios.pt
ENOTECA QUINTA DA AVESSADA R. Direita, 26, Favaios T. 91 256 2803/91 368 0943 Seg-Dom 10h30-13h30, 14h-19h30 Visita à adega com prova €12 Visita e jantar temático €27 (mínimo 10 pessoas) www.enotecadouro.com
NÚCLEO MUSEOLÓGICO FAVAIOS, PÃO E VINHO R. Direita, Favaios T. 259 950 073 Ter-Dom 10h30-12h30, 14h30-18h30 Grátis até setembro
No Sul
CASA MÃE DA ROTA DE VINHOS No coração da vila de Palmela, a Casa Mãe da Rota de Vinhos sede da Rota de Vinhos da Península de Setúbal/ Costa Azul é uma antiga adega reconvertida em central de reservas e posto de informação enoturística. Funciona também como local de exposição, prova e venda de vinhos com preços de adega. Lg. de S. João, Palmela T. 21 233 4398 Seg-Sáb 10h-19h
ADEGA COOPERATIVA DE PALMELA Palmela Gare, Palmela T. 21 233 7020 www.acpalmela.pt
BACALHÔA VINHOS DE PORTUGAL E.N. 10, Vila Nogueira de Azeitão T. 21 219 8060 www.bacalhoa.com
CASA ERMELINDA FREITAS R. Manuel João Freitas Fernando Pó, Águas de Moura T. 265 988 000 www.ermelindafreitas.pt
COOPERATIVA AGRÍCOLA STO. ISIDRO DE PEGÕES Rua Pereira das Caldas, 1 Sto. Isidro de Pegões T. 265 898 860 www.cooppegoes.pt
JOSÉ MARIA DA FONSECA R. José Augusto Coelho, 11/13 Vila Nogueira de Azeitão T. 21 219 8940 www.jmf.pt
MALO TOJO WINES Quinta dos Catralvos, Azeitão T. 21 219 7610 http://www.quintadecatralvos.com
VENÂNCIO COSTA LIMA R. Venâncio da Costa Lima, 139, Quinta do Anjo T. 21 288 8020 www.venanciodacostalima.pt