Será difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar de jejum intermitente. A técnica para perder peso está na moda, foi esmiuçada em artigos de jornais e revistas e nos perfis de Instagram de celebridades de todo o mundo.
Esta estratégia alimentar, que alterna períodos de jejum longos (16 a 48 horas) com períodos de ingestão habitual, demonstrou ser uma forma eficaz de perder peso, pois implica uma restrição energética, o que, inevitavelmente, leva a uma perda de massa gorda. Porém, médicos e nutricionistas têm alertado que fazê-lo de forma inconsciente poderá ter maus resultados.
É que, como sublinham os nutricionistas Pedro Cavalho e Vitor Hugo Teixeira, apesar de haver estudos que indicam maior redução do peso corporal e da massa gorda com o jejum intermitente, mostram que há também maior redução da massa magra, “o que não é favorável”.
Outros especialistas têm ainda sugerido que a prática pode interferir com os níveis das hormonas sexuais femininas. Mas, agora, uma equipa de investigadores da Universidade de Illinois, em Chicago, publicou um estudo na revista científica Obesity que traz novas conclusões para a discussão.
Liderada pela professora de nutrição Krista Varady, a equipa acompanhou um grupo de mulheres obesas na pré e pós-menopausa que, ao longo de oito semanas, seguiram um tipo de jejum intermitente chamado “método do guerreiro”, o qual pressupõe uma janela de alimentação de quatro ou seis horas por dia, durante as quais as pessoas podem comer sem contar calorias, para depois retomar um jejum de água até ao dia seguinte.
A equipa concluiu que os níveis de dehidroepiandrosterona (DHEA), uma hormona que as clínicas de fertilidade prescrevem para melhorar a função dos ovários a qualidade dos óvulos, realmente caiu cerca de 14%, no final do estudo. “A queda nos níveis de DHEA em mulheres na pós-menopausa pode ser preocupante, porque a menopausa já causa uma queda dramática no estrogénio, e o DHEA é um componente primário do estrogénio”, comentou a Krista Varady à revista Science Daily.
Porém a queda foi considerada reduzida, sobretudo porque, após as oito semanas de dieta, os valores encontravam-se ainda dentros dos parâmetros tidos como normais.
Os dados das pessoas que fizeram jejum intermitente foram comparados com os de um grupo de controlo que não seguiu nenhuma dieta. E, apesar de os níveis de DHEA terem no grupo que fez jejum, os níveis de globulina transportadora de hormonas sexuais, uma proteína que transporta hormonas reprodutivas por todo o corpo, permaneceu inalterado, tal como a testosterona e a androstenediona, uma hormona esteróide que o corpo usa para produzir testosterona e estrogénio.
Menores níveis de DHEA podem não ser um problema
À revista Science Daily, Krista Varady disse que os resultados sugerem que, em mulheres na pré-menopausa, deve-se ponderar se a pequena queda nos níveis de DHEA é um problema, quando comparada “com os benefícios comprovados para a fertilidade de uma menor massa corporal”.
Além disso, o alto nível de DHEA tem sido associado ao risco de cancro da mama. Segundo a responsável do estudo, “uma queda moderada nos níveis pode ser útil na redução desse risco para mulheres na pré e pós-menopausa”.
Ao longo do estudo, as mulheres nos grupos de dieta de quatro e seis horas experimentaram ainda uma perda de peso de 3% a 4% do seu peso inicial, enquanto que o grupo controlo quase não teve perda de peso. Quem fez jejum também registou uma queda na resistência à insulina e nos biomarcadores de stress oxidativo.
Krista Varady sublinhou que muitas das informações negativas sobre o jejum intermitente relatadas vêm de estudos em ratinhos de laboratório e, por essa razão, são preciso cada vez mais estudos para analisar os efeitos do jejum intermitente em humanos.