Mononucleose infeciosa

Ana Isabel Pedroso, especialista em Medicina Interna do Hospital de Cascais explica em que consiste esta infeção conhecida como “a doença do beijo”.
O que é e quais as causas?
A mononucleose é uma infeção caracterizada pela tríade: febre, faringite e adenopatias (aumento do volume dos gânglios linfáticos).
É provocada pela infeção pelo vírus Esptein Barr (EBV) e espalha-se através de contacto íntimo entre pessoas suscetíveis, como através do beijo. Razão pela qual também é conhecida por “doença do beijo”.
É um vírus muito comum. Estima-se que cerca de 90%-95% dos adultos tenham anticorpos para este vírus.
Sintomas
O EBV em idade jovem é normalmente subclínico, ou seja, assintomático. Menos de 10% das crianças desenvolvem sintomas, apesar da alta exposição ao vírus. Existe um pico de incidência entre os 15 e os 24 anos. Adultos com idade superior também podem ter esta infeção e existe, inclusivamente, uma forma severa que pode obrigar à hospitalização, mas é muito rara, aliás acontece em menos de 2% dos casos.
Na generalidade, os sintomas desta infeção são: febre (em 98% dos doentes), faringite (em 95% dos doentes), adenopatias, muita fadiga e linfocitose atípica. A fadiga pode ser muito persistente (durar até seis meses) e severa. Pode também existir odinofagia (dor de garganta) forte. E ainda antes destes sintomas muitas vezes surge um quadro de mal-estar geral, cefaleias e febre baixa.
Existem manifestações mais raras como o aumento do tamanho do baço (podendo mesmo existir rutura); erupções cutâneas e, muito raramente, meningite e encefalite. A morte ocorre em < 1% (raríssimo).
Como se transmite
Pode ser transmitido de pessoa para pessoa, uma vez que é eliminado nas secreções salivares em níveis elevados por um período prolongado, em média durante seis meses. Pode mesmo durar décadas na orofaringe.
Como se trata
Não existe tratamento específico. O recomendado é repouso e analgésicos, como acetaminofeno, e medicamentos anti-inflamatórios não esteroides, que podem ajudar a aliviar a febre e a dor.
Gripe

As explicações sobre esta doença dadas pela especialista em Medicina Interna Maria Bravo, coordenadora da Urgência da Clínica de Santo António.
O que é?
A gripe é uma infeção respiratória aguda causada pelo vírus influenza, geralmente, de curta duração. Este vírus entra no nosso organismo pelo nariz, multiplica-se, e propaga-se para a garganta e restantes vias respiratórias, incluindo os pulmões.
Sintomas
Os primeiros sintomas da doença começam um a quatro dias após a infeção pelo vírus, é o chamado período de incubação. A severidade da doença vai variar de pessoa para pessoa. As mais vulneráveis são as pessoas mais idosas ou portadoras de doenças crónicas. O nosso corpo, através do sistema imunitário, ao detetar o vírus da gripe, inicia um processo de defesa. É este processo que gera os sintomas da doença e, de um modo geral, resulta na eliminação do vírus em cerca de uma semana.
Nem todos os infetados com o vírus da gripe adoecem, mas naqueles em que isso acontece, os sintomas mais comuns incluem: febre, dores de cabeça, tosse seca, sensação de garganta irritada, congestão nasal e dores musculares. Em idades pediátricas são também comuns as náuseas, os vómitos e a diarreia.
São as complicações aliadas a sintomas mais graves, como bronquites e pneumonias, que causam maior preocupação…
Diagnóstico
O diagnóstico definitivo de gripe baseia-se no isolamento do vírus e na identificação do genoma viral, mas estes exames são reservados para os casos que requerem hospitalização, e em grávidas e crianças com sintomas severos. Nos restantes casos, o diagnóstico é feito com base nos sintomas do paciente. É por isso que, quando diagnosticado, se denomina síndrome gripal em vez de gripe.
Tratamento
Na maioria das situações, a gripe dura apenas alguns dias e requer apenas terapêutica sintomática, devendo repousar, alimentar-se corretamente e hidratar-se. Não há indicação para o uso de antibióticos, uma vez que não atacam os vírus, apenas as bactérias. Estes não devem ficar reservados para complicações como sobreinfeções bacterianas.Os antivirais podem ser um importante coadjuvante para o tratamento e a prevenção da doença. Se tomados antes da infeção, ou até dois dias após o início dos sintomas, os antivirais podem ajudar a evitar a infeção. Se a infeção já estiver estabelecida, um tratamento antiviral efetuado cedo no percurso da doença pode, mesmo assim, reduzir a duração dos sintomas em um ou dois dias.
Prevenção
A vacinação anual, disponível há mais de 60 anos, é a principal forma de prevenção contra a gripe sazonal. É segura e eficaz, reduzindo a incidência, a gravidade e a mortalidade entre os idosos e doentes crónicos.De acordo com algumas diretivas da Organização Mundial da Saúde (OMS), devem ser vacinados, preferencialmente em outubro: indivíduos com idade igual e superior a 65 anos; grupos de pessoas com um risco acrescido de complicações (nomeadamente, pessoas com doenças crónicas ou com o sistema imunitário enfraquecido); e grupos que podem transmitir o vírus a outras pessoas consideradas de risco (por exemplo, médicos e enfermeiros).
No entanto, há um grupo de pessoas que não se deve vacinar (por exemplo, por alergia prévia). Por isso, deverá sempre aconselhar-se com o seu médico.
Herpes

Susana Vilaça, dermatologista, coordenadora da Unidade de Dermatologia do Hospital Lusíadas Porto, fala deste problema.
O que é?
É uma infeção viral altamente contagiosa causada pelo herpes vírus tipo 1 e 2 (HSV tipo 1 e 2). O herpes tipo 1 é o mais frequente e afeta sobretudo a região dos lábios, do nariz e dos olhos. O herpes tipo 2 é transmitido por via sexual.
Quais os sintomas?
Os sinais e sintomas são variáveis, mas, na maioria das vezes, inicia-se por uma sensação de desconforto, ardor e comichão no local da infeção. De seguida, aparecem pequenas vesículas dolorosas, que posteriormente rebentam e libertam um líquido branco. Esta fase é a mais contagiosa e deve-se evitar o contacto direto com as lesões.
O primeiro contacto com o vírus ocorre geralmente na infância. Na idade adulta, 90% das pessoas já são portadoras do anticorpo HSV tipo 1. Ao longo da vida, apenas 20%-30% dos portadores desenvolvem sinais ou sintomas da doença.
Uma vez ocorrido o primeiro contacto com o vírus, este permanece alojado nas células nervosas do nosso sistema nervoso central, podendo ser ativado a qualquer momento e causar o aparecimento de novas lesões.
O surgimento das lesões ocorre mais frequentemente em doentes imunosupremidos ou após situações de maior stresse.
É importante referir que não existe imunidade contra o herpes.
Geralmente, transmite-se de pessoa para pessoa, através do contacto direto. A primoinfeção (infeção primária) ocorre sobretudo através de:
1. Gotículas inalatórias (tosses, espirros, etc.)
2. Infeção através de utensílios (escovas de dentes, talheres ou copos)
3. Contacto direto (beijos e relações sexuais).
A mucosa dos lábios é especialmente propensa à infeção e, em condições favoráveis, pode ser reativada a qualquer altura. Essa reativação (aparecimento de lesões) ocorre quando existem perturbações no nosso sistema imunitário:
1. Infeções ou febre
2. Exposição solar exagerada
3. Stresse emocional
4. Alterações hormonais (período menstrual, gravidez)
5. Doenças crónicas e medicação que suprimem as nossas defesas
Após um primeiro contacto com o vírus, vamos estar infetados de forma vitalícia e o aparecimento das lesões vai depender do sistema imunitário.
Complicações
Apesar do herpes ser incomodo para a maioria das pessoas, geralmente tem uma evolução clínica favorável. Dentro de 8-15 dias, a maioria das lesões desaparece sem deixar marcas. No entanto, em indivíduos com o sistema imunitário comprometido (e recém-nascidos doentes a fazer quimioterapia ou com doenças infeciosas) podem surgir algumas complicações.
Diagnóstico
Na maioria das vezes, o aspeto clínico das lesões permite ao médico fazer um diagnóstico correto. No que diz respeito ao herpes genital, deve-se recorrer ao dermatologista ou ginecologista. Em caso de dúvidas, pode-se realizar um raspado superficial da base de uma vesícula, para identificação do vírus após uma coloração específica.
Como se trata?
O herpes simplex não tem cura definitiva. Após o primeiro contacto com o vírus, que ocorre geralmente na infância, somos portadores vitalícios do mesmo. Devemos, no entanto, desinfetar o local das feridas e aplicar antivíricos em pomada. Em casos resistentes, podemos tomar medicação oral antivírica prescrita pelo médico.
Varicela

Cláudia Almeida, pediatra no Hospital Lusíadas Porto, esclarece tudo sobre este problema de saúde infecioso muito comum na infância.
O que é?
A varicela é uma das doenças infeciosas mais comuns na infância, podendo também afetar adultos que não a tenham tido. É caracterizada por lesões na pele que provocam comichão intensa e se espalham por todo o corpo. É muito contagiosa, sendo mais frequente no final do inverno e início da primavera.
Quais as causas?
É causada pelo vírus varicela-zoster, do grupo herpesvírus. Este vírus, após causar varicela, permanece latente nas células nervosas e, quando reativado, pode causar lesões cutâneas dolorosas conhecidas por “zona”.
Quais os sintomas?
Geralmente, os sintomas surgem em simultâneo – pode ocorrer febre ligeira, dor de cabeça, sensação de mal-estar, e lesões na pele que começam geralmente como pápulas, idênticas a picadas de inseto que rapidamente evoluem para vesícula com líquido e rebentam ficando em crosta. É habitual existirem na mesma zona do corpo lesões em diferentes fases, umas ainda no início, outras já em crosta. Os locais mais frequentes são a cabeça, o tronco e os genitais, mas é normal que as lesões se espalhem por todo o corpo. Também pode atingir as mucosas oral e genital, na forma de úlceras, causando grande desconforto.
Como se transmite?
A varicela é uma doença altamente contagiosa, por via aérea (gotículas de saliva) bem como pelo contacto direto com as lesões cutâneas, assim se explica a facilidade com que a doença se propaga em meios fechados tais como creches e infantários. A criança já é contagiosa nos dois a três dias que antecedem o aparecimento dos sintomas e permanece até as lesões estarem todas em crosta (cerca de sete dias). Durante este período, a criança não deve ir à escola. O período de incubação pode ir de 10 a 21 dias.
Como se trata?
O tratamento da varicela é fundamentalmente sintomático, ou seja, deve controlar-se a febre com paracetamol; evitando a utilização de anti-inflamatórios, como ibuprofeno e o ácido acetilsalicilico (aspirina), pelo risco de ocorrência de síndrome de Reye. A comichão pode ser diminuída com recurso a loções calmantes e anti-histamínicos. A necessidade de iniciar tratamento antiviral deve ser avaliada pelo médico assistente.
Existe vacina disponível para administração após o primeiro ano de vida, mas o seu uso é controverso, não faz parte do Programa Nacional de Vacinação, estando indicada apenas em grupos de risco específicos, como adolescentes e adultos e crianças com imunossupressão.