1. O que é a osteoartrose
A artrose ou osteoartrose foi um termo utilizado durante muitos anos para descrever um grupo de alterações articulares puramente degenerativas associadas ao envelhecimento. No entanto, percebemos hoje que a patogénese (etiologia) da osteoartrose é mais complexa e que fatores biomecânicos, mediadores pró-inflamatórios e proteases (enzimas envolvidas na proteólise) desempenham um papel que vai além do desgaste provocado pelo envelhecimento.
2. A cartilagem como má da fita
Esta doença articular ocorre quando a cartilagem que reveste a extremidade dos ossos fica desgastada. Não tem só que ver com o desgaste da cartilagem. Existe todo um conjunto de alterações associadas à artrose – diminuição do espaço interarticular, remodelação subcondral, osteófitos, degradação do menisco, sinovite, sarcopenia e degradação da cartilagem.
3. Zonas do corpo afetadas
A carga articular excessiva ou anormal causa dano no tecido articular e pode afetar toda e qualquer articulação do corpo. É mais frequente e severa em articulações com patologia prévia (traumática ou outra) ou de uso intenso. As articulações mais afetadas são frequentemente as mãos, os joelhos, a anca e a coluna. No entanto, pode ocorrer em qualquer articulação.
4. As causas
A principal causa é o uso repetitivo de anos e anos associado ao envelhecimento, mas outras como excesso de peso, género, lesões, ocupação e antecedentes médicos desempenham um papel preponderante para o seu aparecimento.
5. Os sintomas
Os sintomas variam conforme a articulação afetada, a severidade da doença, idade e antecedentes do doente, entre outros. A dor e a limitação funcional são as queixas mais frequentes da artrose, mas outras como diminuição da flexibilidade, diminuição da força/destreza muscular, deformidade articular, edema e hipersensibilidade podem surgir.
6. Dor variável
A dor resulta de um processo biopsicossocial multifatorial (o aspeto biológico, psicológico e social do indivíduo) envolvendo as estruturas não cartilaginosas, incluindo o osso subcondral, a sinovial e as estruturas periarticulares, e é influenciada por fatores ambientais e psicossociais. A dor pode evoluir de forma negativa ao longo do dia e pode agravar-se com a realização de atividades intensas. Mas isto não é necessariamente assim para todo o tipo de casos e todo o tipo de doentes. A dor da artrose tem um impacto negativo no humor e afeta o sono. Interfere, também, nas atividades ocupacionais e recreativas.
7. Os tratamentos
Atualmente não existe cura para a osteoartrose. O tratamento visa minimizar a dor, controlar os sintomas, otimizar a função e modificar a evolução da lesão articular. O objetivo principal deve incluir a abordagem dos fatores de risco modificáveis e o tratamento multifacetado. Entre eles estão o exercício físico (caracterizado por mobilização ativa/passiva, reforço muscular, alongamentos e treino propriocetivo – sensação de posição do membro/corpo e sensação de perceção do movimento), a terapia ocupacional, a fisioterapia, a termoterapia, a crioterapia, ortóteses e outras medidas de descompressão e alívio local e, por fim, a medicação e a cirurgia. O médico assistente irá desenvolver um plano de tratamento adequado e adaptado a cada caso, tendo em conta as necessidades particulares.
8. Como controlar a dor
A analgesia para controlo da dor pode ser feita através de medicamentos de ação local e/ou sistémica, tais como os anti-inflamatórios, entre outros. A crioterapia, alguns dos tratamentos empregues pela fisioterapia e o próprio exercício físico podem também ajudar a controlar a dor.
A manutenção de uma vida ativa e o controlo do peso corporal, em conjunto com os tratamentos, podem atrasar a sua evolução, melhorar a dor e a função da articulação.
9. Fatores de risco
Vários fatores de risco têm vindo a ser associados. São atualmente consensuais a idade e o género – é extremamente comum a partir dos 60 anos e é mais frequente nas mulheres, especialmente a partir dos 45 anos. Até aos 45 anos, o homem parece ser mais afetado – história de lesão articular prévia, a obesidade, a genética, algumas doenças metabólicas, o uso repetitivo e fatores anatómicos incluindo o formato e o alinhamento articular.
Outras doenças que causam dor
5 patologias explicadas pela Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas e a Sociedade Portuguesa de Reumatologia
Artrite reumatoide
É uma doença autoimune (alteração dos sistemas de defesa que reagem contra o próprio organismo) que se caracteriza pela inflamação de uma ou várias articulações.
A inflamação articular causa alterações características: edema, dor das articulações e, por vezes, rubor e calor. Provoca, também, rigidez, sensação de prisão dos movimentos, especialmente no início da manhã ou depois de períodos de repouso. Diminui a esperança média de vida entre cinco e dez anos. Os sintomas podem aparecer em qualquer idade, mas é mais frequente entre os 40 e os 50 anos e mais nas mulheres.
Espondilartrose ou espondilose
Esta doença afeta as articulações da coluna vertebral e resulta do desgaste entre as vértebras da coluna. O disco intravertebral reduz-se em altura, o espaço entre duas vértebras torna-se mais pequeno, dando origem àquilo a que se chama bicos-de-papagaio. Inicia-se, geralmente, a partir dos 40 anos, e tem nos trabalhadores que usam martelos pneumáticos (devido às vibrações prolongadas), nos agricultores, estivadores, pescadores e nas empregadas domésticas, ou seja, em pessoas sujeitas a trabalhos mais violentos, um “alvo” preferencial. As dores, na maioria dos casos, são as chamadas “moinhas”. No entanto, podem acontecer episódios agudos muito dolorosos, lancinantes e de curta duração, denominados lumbagos.
Esclerose sistémica
É uma doença autoimune rara, de causa não conhecida, que se caracteriza por alterações degenerativas, inflamação e fibrose dos tecidos e alterações dos vasos sanguíneos, afetando vários órgãos, sobretudo a pele, o tubo digestivo, os pulmões, os rins e o coração. A manifestação mais característica é o chamado fenómeno de Raynaud, que consiste na alteração sequencial da cor dos dedos (primeiro ficam pálidos, depois azulados e por último ruborizados), devido a espasmos dos vasos sanguíneos. Quando atinge a zona digestiva, os pacientes podem queixar-se de azia, náuseas, enfartamento, disfagia (dificuldade em engolir), engasgamento, dor abdominal, alterações do trânsito intestinal (obstipação e diarreia) ou incontinência fecal. Consoante o local afetado, podem surgir dores articulares e musculares.
Vasculites
É o grupo heterogéneo de doenças que se caracteriza por causar inflamação dos vasos sanguíneos. Qualquer tipo de vaso. Pode ocorrer em veias e artérias de grande calibre, como a artéria aorta, ou em vasos muito pequenos, como os capilares presentes nos pulmões, nos rins ou na pele. De causa desconhecida, podem, no entanto, ser desencadeadas por infeções (hepatite B ou C), medicamentos, uso de drogas ou outras doenças inflamatórias. Causam dores generalizadas, perda de peso, mal-estar, febre e cansaço.
Síndrome de Sjögren
Esta doença reumática sistémica caracteriza-se pela secura das mucosas, principalmente boca e olhos, podendo também causar secura da pele, do nariz e da vagina. Provoca fadiga/cansaço, muitas vezes inexplicável e que não melhora com o repouso, e dor nas articulações, que podem comprometer bastante a qualidade de vida dos doentes.
A síndrome de Sjögren designa-se de “primária” quando o doente não é portador de outra doença difusa do tecido conjuntivo, e “secundária”, se já existe outra patologia reumática, como a lúpus ou artrite reumatoide.