Lola-Rose Raine, uma menina britânica de três anos, esteve à beira da morte devido a uma falha hepática grave, provocada por uma hepatite aguda, de origem misteriosa, que está a atingir crianças em alguns países da Europa e nos Estados Unidos da América. Foi salva pelo pai, quando lhe restavam horas de vida. Eram compatíveis e ele doou-lhe parte do seu fígado.
“Depois do transplante, a cor da Lola voltou muito rapidamente. Em 48 anos, as análises ao sangue estavam praticamente normais”, relata Alan Raine, o pai, à Sky News.
Um dos sinais de alerta mais frequentes, que permitem antecipar o diagnóstico desta nova forma de hepatite, é precisamente a cor dos olhos e da pele das crianças, que ganham um tom amarelado (icterícia). Significa que o fígado não está a funcionar corretamente. Os pais de Lola detetaram este sintoma no dia 13 de março, levaram-na a uma urgência hospitalar e ela já não saiu mais.
Como tem acontecido na maioria dos casos reportados, a icterícia era o único sinal de que algo não estava bem. Ao fim de quatro dias de internamento, as análises clínicas mostravam um agravamento progressivo da função hepática, e Lola foi transferida para o King’s College Hospital, em Londres, uma das mais prestigiadas unidades de saúde no mundo no que respeita a doenças relacionadas com o fígado.
Mais quatro dias de exames, e os médicos informaram os pais de que a menina tinha acusado positivo a um adenovírus, na maioria dos casos inofensivos. Por qualquer razão, a função hepática estava a deteriorar-se rapidamente e, passados mais quatro dias, a 25 de março, Lola foi transferida para os cuidados intensivos e colocada em coma induzido. Os rins e o cérebro começavam a ficar em perigo como consequência do mau funcionamento do fígado e ela teve de ser ligada ao ventilador, “alimentada por um tubo enfiado no nariz”, nas palavras do pai. No dia seguinte, os médicos inscreveram-na na lista de transplantes urgentes.
Em menos de duas semanas, desde a ida à urgência, esta nova forma de hepatite, de origem desconhecida – não corresponde a nenhum dos tipos já conhecidos (A, B, C, D e E) – evoluiu para uma situação de risco de vida. Mãe e pai ofereceram-se como dadores e, no dia 30 de março, a cirurgia realizou-se. Alan Raine soube na véspera que era compatível. Três semanas após o transplante, “Lola está a ficar fantástica” e a família espera que ela “volte a casa num par de semanas”.
Portugal prepara orientações para pais e pediatras
Este não é um caso único. Como Lola, outras sete crianças britânicas, de um total de 108 diagnosticadas, tiveram de submeter-se a transplantes hepáticos, no último mês, por causa desta hepatite que também já foi detetada em quatro países da União Europeia, Espanha, Dinamarca, Irlanda e Países Baixos, e ainda nos Estados Unidos da América. Em Portugal, a Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP) confirmou esta sexta-feira, 22, que até ao momento não há crianças com a doença, atestando a informação que já havia sido transmitida pela Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, no dia anterior.
Em comunicado divulgado ontem na sua página na internet, a SPP diz estar a colaborar com as suas congéneres de Gastrenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica, de Infecciologia, de Urgência e Emergência e de Cuidados Intensivos no sentido de “elaborar documentos orientadores para pais e profissionais”, com o objetivo de “preparar a resposta a um possível surto de hepatites reportado pelas autoridades de saúde internacionais e nacionais”.
Segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças, a agência sanitária da União Europeia, todos os países com casos já identificados desta hepatite aguda estão a investigar a origem da mesma. Entre os “suspeitos” estão os adenovírus, que foram encontrados em algumas crianças, incluindo Lola.