A atividade gripal está a aumentar, embora de “forma semelhante a anos anteriores”, diz Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública. O último Boletim de Vigilância Epidemiológica da Gripe, publicado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), revela que estamos numa “tendência crescente” de casos de gripe e um “provável início de período epidémico”. Estas conclusões derivam da análise dos dados fornecidos pela Rede Portuguesa de Laboratórios para o Diagnóstico da Gripe.
O boletim refere que entre 28 de fevereiro a 6 de março (semana 9) a taxa de incidência de síndrome gripal foi de 15,1 por 100 mil habitantes. Foram detetados pela rede de laboratórios, nessa semana, “165 casos positivos para o vírus da gripe, todos do tipo A”, sendo que “em 20 dos casos foi identificado o subtipo A(H3) e num dos casos o subtipo A(H1)”. Até agora, e desde o início da vigilância da época gripal, em outubro, foram detetados, conforme o mesmo documento, um total 612 casos de gripe.
Se não contarmos com 2021, ano em que houve uma quase ausência de gripe devido ao confinamento geral, o número total de casos de gripe na semana homóloga de 2020 foi bastante superior. O boletim do INSA, da semana 9 de 2020, dava conta de 4 081 casos de gripe, sendo 2 507 do tipo A. Nessa semana de há dois anos, foram registados 161 casos de gripe (158 do tipo A). A incidência era de 33,08 por cada 100 mil habitantes.
“Se comparamos com o período homólogo de 2020, estamos com níveis de atividade residual”, nota Filipe Froes, pneumologista do Hospital Pulido Valente. Para isso, diz, contribuiu “o uso de medidas não farmacológicas, como a máscara”. No entanto, avança, o alívio das medidas de contenção na últimas semanas, “vê-se muita gente sem máscara na rua”, poderá levar a uma subida de casos. “Temos de monitorizar a atividade gripal.” Segundo o pneumologista, esse alívio “criou condições para que, finalmente, os vírus respiratórios, como a gripe, possam emergir”.
Para Tato Borges, o boletim do INSA, mostra “uma atividade controlada” e que “estamos, agora, a entrar na fase de maior transmissão”. Têm sido “identificados mais focos de disseminação”, explica, referindo-se a um surto, em Leiria, que deu origem a cerca de 60 casos de gripe depois de uma festa e um outro, no Porto, também num local de diversão.
As tipos do vírus influenza detetados em Portugal são o A e o B, sendo o subtipo H3N2 (do vírus A) o dominante, nesta altura. Em 2009, o vírus que levou a Organização Mundial da Saúde a declarar uma pandemia de gripe A foi o subtipo H1N1.
Filipe Froes diz que se espera um aumento de casos nas próximas semanas até porque “há cerca de 7 milhões de pessoas não vacinadas contra a gripe”, nomeadamente os mais jovens.