Enquanto o número diário de novos casos de Covid-19 parece, finalmente, ter estabilizado, em muitos países europeus, o cenário que se desenha na Europa de Leste é visivelmente diferente.
Após quase dois anos de luta contra a pandemia, países como a Rússia, a Ucrânia, a Bulgária, a Polónia ou a República Checa vêm-se a braços com um aumento, não só do número de novos casos de Covid-19, como de mortes.
Segundo a agência de notícias Reuters, além de ter reportado 33 740 novas infeções nas últimas 24 horas, a Rússia atingiu, esta terça feira, as 1015 mortes por Covid-19, o maior número registado num único dia, no país, desde o início da pandemia.
Na Ucrânia, o ministério da saúde revelou que, nas últimas 24 horas, o país atingiu um recorde diário de 538 mortes relacionadas com o novo coronavírus, ultrapassando o último pico de 481 mortes, registado a 7 de abril deste ano.
A Bulgária, que tem vindo a observar um aumento de novas infeções desde o início de setembro, notificou hoje, segundo o jornal The Guardian, 4979 novos casos, a maior contagem diária desde 24 de março de 2021. Dados do Ministério da Saúde do país mostram ainda que 214 pessoas morreram com o vírus nas últimas 24 horas.
Quanto à República Checa, o país registou ontem o maior número diário de novos casos de Covid-19 (2521) desde o final de abril, enquanto o vice-ministro da Saúde da Polónia, Waldemar Kraska, anunciou que o número de casos no país aumentou 85% esta semana.
Além do aumento de novos casos e mortes diárias por Covid-19, estes países partilham dois fatores que, segundo o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, são decisivos no crescimento registado: Baixas taxas de vacinação ao mesmo tempo que há um relaxamento das medidas de distanciamento.
Se a média europeia de pessoas totalmente vacinadas se encontra nos 54%, Rússia, Bulgária e Ucrânia encontram-se bem longe de tais valores, com percentagens entre os 15% e os 32%. Já a Polónia e a República Checa têm valores mais elevados, entre os 52% e os 56%, mas, ainda assim, longe dos 86% portugueses, dos 85% dos Emirados Árabes Unidos ou dos 79% espanhóis.
“É evidente que estes países têm coberturas vacinais que não são suficientes. Ou estavam confinados ou isto era inevitável”. Carmo Gomes, sublinha que, mesmo com 60% ou 70% da população vacinada, “há espaço suficiente para que o número de casos aumente todos os dias, em particular se se relaxarem as medidas de distanciamento”.
O epidemiologista explica que a variante Delta tem uma contagiosidade semelhante à de vírus como o da papeira ou o da varicela e “com vírus destes, ou se tem a população praticamente toda coberta pela vacinação ou então, mais cedo ou mais tarde, toda a gente apanha”.
No caso de Portugal, por exemplo, onde se tem sentido uma descida no número de novos casos de Covid-19 desde agosto, 86,38% da população encontra-se totalmente vacinada e, como acrescenta Carmo Gomes, há ainda os menores de 11 anos que, apesar de não terem sido vacinados, “alguns já apanharam a infeção e estão imunizados. Na prática, é como se estivéssemos próximos dos 90% a 95% de pessoas protegidas”.
A par do nosso País, que, neste momento, tem a mais alta percentagem mundial de pessoas totalmente vacinadas, Emirados Árabes Unidos (85%), Cuba (60%), Chile (75%) e Espanha (79%) acompanham-nos no pódio da vacinação. À semelhança de Portugal, como mostram os dados do Our World in Data, também estes países têm registado uma descida no número de novos casos desde o verão.