A habitual sequenciação do vírus SARS-CoV-2 pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), em colaboração com laboratórios de análises espalhados pelo País, este mês foi “um bocadinho surpreendente”, explicou João Paulo Gomes, o responsável pelo Núcleo de Bioinformática do Departamento de Doenças Infeciosas deste instituto, aos políticos e parceiros sociais, nesta sexta-feira, no auditório do Infarmed. Em causa está a súbita notificação de casos de uma das três linhagens identificadas como provenientes da Índia. Se em abril, a variante B.1.617 (indiana) não tinha qualquer disseminação em Portugal, agora o investigador já fala em transmissão comunitária.
Apesar da análise do genoma referente a maio ainda não estar concluída, João Paulo Gomes revelou que a variante indiana já representa 4,6% dos 800 genomas estudados pelo INSA. O que corresponde a 37 casos de Covid-19, espalhados por 9 distritos, 23 concelhos. Mas, alerta, “naturalmente, estamos a falar de muito mais. É expetável que esta variante já esteja disseminada pela comunidade. Estimamos que já sejam 160 casos associados”. Isto porque o laboratório nacional faz o seu estudo apenas com base numa amostra.
O concelho que o investigador deixa aos políticos é para que se tenha em atenção as medidas que acompanharão a abertura das fronteiras, uma vez que as variantes serão as principais responsável pela contínua transmissão do vírus em Portugal. “É preciso controlo rigoroso de fronteiras. Não tenhamos dúvidas: o vírus não nasce cá”, disse João Paulo Gomes.
Variante britânica representa 87,2% dos casos em Portugal. Indiana 4,6%; Manaus 3% e África do Sul 1,9%
A maioria dos casos de Covid-19 em Portugal continuam a ter origem na variante britânica (B.1.1.7), que atualmente representa 87,2% do universo dos infetados, “um ligeiro decréscimo” em relação a abril, quando representava 91,2%. Na lista das linhagens “preocupantes”, apresentadas pelo investigador do INSA, constam ainda, embora com resultados mais discretos, a variante de Manaus, Brasil, (P.1) presente em 3% dos casos, em 16 distritos; e a da África do Sul (B.1.351) em 1,9%, espalhada em 13 distritos.
João Paulo Gomes explicou ainda que o INSA encontra, todos os meses, entre 15 a 20 variantes diferentes do vírus, em Portugal, sem que todas tenham a mesma expressão. Desde há dois meses, nota-se, de acordo com o especialista, que as variantes “são mais especificas”, quando antes “eram muito heterogêneas”. Isto acontece porque “o vírus está a adaptar-se a uma população cada vez mais imunizada” e a tentar encontrar formas, mais eficazes, de se continuar a propagar. A solução? Continuar o bom ritmo de vacinação e apostar no controlo das fronteiras para evitar que estas variantes continuem a sobreviver.