Com o aumento do número de casos e numa autêntica corrida contra o vírus da Covid-19, as autoridades estão neste momento a avaliar as restrições do uso da vacina da Janssen a menores de 50 anos, apurou a VISÃO.
Em causa está uma análise do risco de eventos de coágulos sanguíneos, que segundo a Agência Europeia do Medicamento são raros, em relação às consequências que um atraso na vacinação dos portugueses pode ter na saúde e na economia do País. De acordo com dados a que a VISÃO teve acesso, os limites impostos em Portugal (ao contrário da grande maioria dos paises) podem forçar a que se desperdicem 2,7 milhões de doses até agosto. Como a vacina é de uma só dose, isso significa recusar a hipótese de ter mais perto de 3 milhões de pessoas com a vacinação completa.
Ao mesmo tempo que aguarda pela decisão das autoridades e técnicos de saúde, o coordenador da Task Force da Vacinação, Almirante Gouveia e Melo, está a colocar em prática uma nova estratégia: vacinar o mais rápido possível a população entre os 59 e os 30 anos, de forma a travar o avanço do vírus. E apesar de continuar a assentar na vacinação por idades, vai diminuir o espaçamento entre as faixas etárias. As pessoas com mais de 50 anos deverão começar fazer o auto-agendamento ainda esta quinta-feira e depois, todas as semanas, ao longo do mês de junho, abrirá o auto agendamento para a faixa etária seguinte.
Por outro lado, as zonas de Lisboa e Vale do Tejo e o Algarve, que tinham taxas de vacinação menores do que as restantes, devido à idade dos seus habitantes, vão ter um reforço nas doses. Ou seja, apesar de o calendário ser igual para todas as regiões, naquelas duas haverá nos próximos dias mais doses disponíveis para se conseguir vacinar mais pessoas. Segundo dados da Direção-geral de Saúde, durante o mês de maio o Alentejo chegou a ter uma taxa de vacinação de 41% e o Centro de 40%, muito superiores aos 32% de Lisboa e Vale do Tejo e aos 38% do Algarve.
Sistema informático reformulado para agilizar agendamentos
Além de reforçar as doses nas regiões com menos vacinados, e consequentemente uma população mais jovem, a Task Force decidiu ainda reformular o sistema informático em que assenta a base de dados e através do qual é feito o agendamento, seja por meio dos enfermeiros, seja pelo auto-agendamento.
Para agilizar o processo, está neste momento a ser reformulado todo o sistema informático. É que, apurou a VISÃO, uma das informações que tem sido transmitida ao Governo pelo responsável da Task Force é a de que, apesar de existir capacidade de vacinar cerca de 100 mil pessoas por dia, nem sempre se consegue atingir esse patamar. Por um lado, porque o sistema de marcação, quer local, quer de autoagendamento, não está agilizado. Assim, dentro de dias, está previsto que o processo informático seja alterado para que os mais de 300 locais de vacinação tenham acesso em tempo real às listas de pessoas a vacinar. Neste momento, o sistema é mais complexo.
Outra das situações que está a impedir a vacinação constante de 100 mil pessoas por dia é a falta de vacinas nas datas necessárias. Cerca de 1,4 milhões de doses que estavam previstas chegar para serem usadas no segundo trimestre apenas o vão poder ser no terceiro trimestre. É neste período que Gouveia e Melo quer dar o tudo por tudo para conseguir, como tem explicado, atingir a imunidade de 70% da população em agosto.
Para isso, a sua estratégia assentou em três fases. A primeira em que se focou nos mais idosos, até aos 60 anos, por serem estes que representam 96.04 % das mortes por Covid-19 no Pais; a segunda em que inoculou alguns grupos considerados essenciais, como as forças de segurança e os professores; e agora uma terceira, centrada na recuperação económica. Para isso, Gouveia e Melo considerou ser urgente uniformizar a vacinação nas várias regiões e diminuir a distância entre as faixas etárias. Até porque a Janssen só pode neste momento ser administrada a homens e mulheres com mais de 50 anos – o que pode ser mudado e ajudar a chegar mais rápido à meta dos 70% de imunidade.