Apesar de o estado emergência ter chegado ao fim e o País entrar, a partir de amanhã, em estado de calamidade, o primeiro-ministro, António Costa, já avisou que “em 99,999999% a probabilidade é que a obrigatoriedade do uso de máscara se prolongue até atingirmos pelo menos o grau de imunização de grupo no final de verão”.
Desde dia 28 de outubro de 2020 que os portugueses são obrigados a usar máscara na rua, sempre que seja impossível manter uma distância de segurança. A medida, inicialmente definida por um prazo de 70 dias e depois renovada sucessivamente, está relacionada com o regime de direitos, liberdades e garantias presente na Constituição Portuguesa. Por esta razão, pode ser revogada apenas pelo Parlamento, não dependendo do Governo, da existência ou não de um estado de emergência nem das medidas que o Governo possa tomar para que este estado deixe de vigorar.
As palavras proferidas por António Costa, após a reunião de Conselho de Ministros, esta quinta feira, encontram eco nas de Henrique Lopes. O especialista em Saúde Pública da Universidade Católica Portuguesa explica que, do ponto de vista da Saúde Pública, obrigatório ou não, neste momento o uso máscara no metro, no supermercado ou no centro comercial “é algo do mais básico bom senso”. Henrique Lopes sublinha que o risco não desapareceu e que, com 15% da população nacional imunizada, “estamos muito longe do valor mínimo, que é 70%, e do valor recomendado, que é 74%, para nos podermos dar a um luxo desses”.
Apesar de reconhecer que o risco de transmissão é menor atualmente do que era há quatro meses, quando o risco probabilístico de nos cruzarmos com alguém infetado era de 1,8% (agora varia entre cerca de 0% a 0,96%, consoante o concelho), o especialista avisa que, sempre que existam muitas pessoas de bolhas diferentes, reunidas num determinado espaço, “a dimensão probabilística de contágio aumenta”.
Até porque, a fazer variar a probabilidade de risco, estão fatores como a pertença ou não à mesma bolha de contactos, a localidade onde as pessoas se encontram ser um concelho de muito alto risco ou baixo risco, as comorbilidades, a estrutura etária e a mobilidade de cada pessoa. “Quando vamos a um supermercado, a um centro comercial ou a um concerto não sabemos onde é que aquelas pessoas andaram, a idade que têm, não sabemos nada. Por mero acaso cruzamo-nos com elas”, aponta o especialista. E conclui “não tendo informação específica das pessoas, temos de pensar com base numa probabilidade nacional ou regional”.
Henrique Lopes admite que, se pensarmos que cada pessoa que se junta a um grupo representa 0,35% de probabilidade de risco abstrato (influenciado por uma série de fatores da idade à condição clínica geral, passando fase de contágio, se existente, e outros fatores menores), “pode parecer pouco. Mas pensemos com quantas pessoas nos cruzamos em grandes hipermercados”.
“É por esta razão que é ainda muito importante usar máscara”, conclui, revelando ainda que os mais recentes estudos científicos mostraram que as máscaras, associadas ao uso cada vez melhor que fazemos delas, podem reduzir o risco de contágio até cerca de 98%.